Medida busca conter perdas do campo americano e pode aumentar pressão sobre exportadores brasileiros
O governo dos Estados Unidos prepara um pacote de até US$ 14 bilhões em ajuda a agricultores atingidos pela guerra comercial com China e União Europeia, segundo apuração publicada pelo G1. A medida, defendida pelo presidente Donald Trump, deve ser anunciada oficialmente ainda neste mês e já movimenta o mercado global de commodities.
O contexto por trás da ajuda
O pacote surge após sucessivas pressões de produtores americanos, que vêm registrando quedas nas exportações desde o agravamento das tensões comerciais. O governo chinês, principal comprador de grãos e carne dos EUA, retaliou tarifas impostas por Washington com novos impostos sobre produtos agrícolas.
Esse movimento derrubou a competitividade dos produtores norte-americanos e aumentou estoques domésticos, especialmente de soja, milho e trigo. Segundo a Reuters, a proposta prevê compensações financeiras diretas e subsídios a transportadoras e cooperativas ligadas ao setor rural.
Como funcionará o pacote
De acordo com fontes próximas à Casa Branca, os valores devem ser liberados em duas etapas. A primeira parcela cobriria perdas acumuladas em 2025, enquanto a segunda seria direcionada a produtores mais dependentes das exportações.
O plano também pode incluir linhas de crédito subsidiadas e redução de impostos federais sobre fertilizantes e combustíveis agrícolas. O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) coordenará o repasse dos recursos, priorizando estados do Meio-Oeste — base eleitoral fundamental para Trump.
Efeitos esperados sobre o agronegócio brasileiro
A ajuda americana deve intensificar a competição global por mercados agrícolas, especialmente na Ásia. O Brasil, que se beneficiou nos últimos anos das restrições impostas à soja e ao milho americanos, pode sentir pressão nos preços e nos volumes exportados.
Segundo analistas ouvidos pelo Valor Econômico, a eventual recuperação da produção americana pode reduzir a fatia de exportações brasileiras em até 5% em 2026, dependendo da velocidade de execução do programa.
Para a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), o pacote americano tende a “distorcer a concorrência internacional”. Em nota, a entidade afirmou que monitora os desdobramentos e pode acionar mecanismos da Organização Mundial do Comércio (OMC) caso identifique desequilíbrio de mercado.
Reações políticas e fiscais nos EUA
O pacote precisa ser aprovado pelo Congresso americano, onde há resistência de setores que criticam o aumento de subsídios em plena crise fiscal. Republicanos mais conservadores argumentam que a medida “pune contribuintes para proteger eleitores agrícolas”, enquanto democratas dizem que o plano tem viés político em ano pré-eleitoral.
Apesar disso, há consenso de que o impacto econômico das tarifas exige resposta rápida, e a base rural de Trump pressiona pela liberação imediata.
Cenário global mais volátil
Com o anúncio, o mercado de grãos já precifica o movimento. Na Bolsa de Chicago, contratos futuros da soja subiram 0,9% pela expectativa de compras governamentais internas nos EUA. O petróleo, por sua vez, opera estável, e o dólar mostra leve alta, refletindo uma busca global por proteção, informou a Reuters.
Analistas afirmam que, se confirmada, a injeção bilionária deve dar novo fôlego ao agronegócio americano e complicar a vida de exportadores emergentes, inclusive o Brasil. “Com o campo americano de volta ao jogo, as margens agrícolas internacionais devem se estreitar”, avaliou um consultor ouvido pelo G1.
O que observar nos próximos dias
O foco do mercado agora está no texto final da proposta e na reação da China, que ainda pode adotar novas tarifas sobre produtos agrícolas americanos. Enquanto isso, o Ministério da Agricultura brasileiro acompanha o cenário para avaliar possíveis impactos nas exportações do ciclo 2025/26.
Se confirmada, a medida americana reabre a disputa por espaço no comércio internacional — e coloca o Brasil em alerta para proteger sua competitividade no campo.