Nova modalidade promete revolucionar o pagamento de contas no Brasil, unindo praticidade, controle e inclusão financeira
Por Geoffrey Scarmelote
Imagine nunca mais se preocupar com o vencimento da conta de luz, o boleto da escola ou a mensalidade da academia — e ainda poder gerenciar tudo direto pelo app, com transparência total e sem depender de cartão ou convênio bancário. Essa é a promessa do Pix Automático, sistema lançado oficialmente pelo Banco Central nesta segunda (13), que marca a maior evolução do meio de pagamento mais popular do país desde sua criação, em 2020.
A nova função permitirá autorizar pagamentos recorrentes — como contas, mensalidades e assinaturas — de forma automática entre bancos diferentes, algo que o débito tradicional não fazia. A expectativa é que a ferramenta substitua gradualmente os modelos antigos e amplie o acesso a serviços digitais.
Como o Pix Automático vai funcionar
O Pix Automático permite que o consumidor autorize cobranças periódicas direto no aplicativo do banco, definindo valores máximos, prazos e a empresa recebedora. No dia do vencimento, o pagamento é feito automaticamente, com liquidação instantânea.
Para Lincoln Rocha, presidente da Associação Pagos — Profissionais e Empresas de Meios de Pagamento, “o Pix automático é uma excelente alternativa sempre que você precisa e sabe que você tem aqueles pagamentos recorrentes e você precisa de praticidade, só que agora traz um componente maior de controle”.
Ele explica que o sistema oferece “liquidação imediata, transparente; o cliente sempre visualiza o pagamento na hora e tem total autonomia para autorizar, cancelar ou ajustar o valor”. Rocha define a novidade como “uma evolução natural dos meios de pagamentos recorrentes, que até então era feito por débito automático ou para os privilegiados que têm cartão de crédito”.
O executivo afirma ainda que “deve, sim, substituir” o modelo anterior, por ser mais prático em caso de erro ou disputa. “Tem muito problema de relacionamento entre clientes e bancos que usam o débito automático. O Pix automático resolve isso porque é interoperável entre todas as instituições financeiras. Você vai poder mudar de banco e qualquer banco isso vai funcionar”, explica.
Rocha também destaca que a função poderá ser usada via carteiras digitais. “Vai estar na mão de qualquer brasileiro. Além disso, tem liquidação instantânea e o comprovante é imediato. Isso vai dar muito mais autonomia pro consumidor e uma experiência melhor para o recebedor.”
Ele lembra, porém, que a praticidade exige atenção. “O ideal é revisar periodicamente as autorizações ativas, saber o que está sendo debitado automaticamente e cancelar o que não fizer mais sentido. É importante manter o saldo disponível e acompanhar o extrato, já que os pagamentos acontecem em tempo real. E claro, só autorizar cobranças de empresas confiáveis.”
O que pensam os consumidores
A socióloga Monique Oliveira, doutora em Saúde Pública, afirma que prefere observar o sistema antes de aderir. “Eu uso débito automático pra algumas contas de baixo valor e recorrentes, como celular, contas de luz e internet. Para montantes maiores, que eu preciso verificar os meus gastos, eu realmente pago por meio tradicional. Nunca usei Pix parcelado, mas já avaliei o Pix Automático para pagamentos como terapia, e estou aproveitando este momento para revisar meus gastos.”
O consultor de investimentos Ricardo Moraes é mais resistente. “Não gosto de débito automático porque eles podem cobrar valor indevido e, depois, pra você correr atrás, você perde horas, dias, às vezes até semanas. Conheço o Pix parcelado, mas nunca usei e procuro fugir por causa dos juros. Quanto ao Pix automático, não pretendo usar.”
Já a social media Leila Ruffini diz que ainda não pretende aderir, mas vê espaço para o uso em contas fixas. “Uso débito automático, nunca utilizei o Pix parcelado e também não pretendo usar o automático por enquanto. A maior parte das minhas transações — cerca de 99% — é feita com cartão de crédito. Só faço Pix quando é realmente necessário, algo pontual. Talvez eu adote o Pix Automático em contas que já pago por débito, como luz e gás.”
As vantagens e os riscos, segundo especialistas
O planejador financeiro Matheus Oka, da Fire|ce, avalia que “o Pix automático é uma boa alternativa para pagamentos recorrentes e automáticos de contas de consumo, mensalidades, assinaturas e serviços, especialmente quando a pessoa não tem um cartão de crédito ou prefere uma alternativa que não dependa dele”.
Ele ressalta que a ferramenta é vantajosa “para quem quer evitar o débito automático tradicional, por não depender do convênio entre bancos, e para empresas que podem receber de qualquer banco de forma mais eficiente”.
Mas Oka também aponta limitações. “Em contrapartida, ele tem algumas desvantagens como o risco de não ter saldo suficiente na conta, o que pode gerar cobranças de juros e multas ou interrupção de serviços, também a possibilidade de golpes, a dependência de conexão com a internet e a necessidade de atenção para conferir os detalhes da cobrança.”
Questionado sobre substituir o débito automático, ele é categórico. “Sim, substituir o débito automático pelo Pix automático vale a pena por oferecer mais controle, flexibilidade e segurança ao pagador, além de ser uma opção mais inclusiva, já que empresas menores e de qualquer porte podem oferecer a modalidade. O Pix automático permite que o pagador defina limites, consulte o histórico, receba notificações e cancele autorizações a qualquer momento.”
Oka orienta cuidados para quem pretende adotar a novidade. “Para manter o controle financeiro com o Pix automático, é essencial revisar os dados das cobranças, conferir o saldo antes do débito e acompanhar o fluxo de caixa junto com o extrato semanalmente para evitar surpresas e o uso do cheque especial, afinal pode sofrer juros altíssimos. Além disso, configure limites de valor para maior segurança.”
Um novo passo para o sistema financeiro
O Banco Central estima que a implementação do Pix Automático atinja milhões de consumidores até 2026, tornando o Brasil referência global em sistemas de pagamento instantâneo. A adesão é opcional, mas todas as instituições financeiras deverão disponibilizar o serviço.
O modelo inaugura uma nova fase da digitalização bancária: mais prática, mais ágil — e também mais exigente com o comportamento do usuário.