Crises empresariais isoladas podem se transformar em ondas macroeconômicas quando afetam a confiança no mercado, elevam o custo do crédito e reduzem o apetite de investidores internacionais
O mercado de capitais brasileiro ainda é pequeno e pouco desenvolvido em comparação com os principais centros financeiros globais. Para que esse mercado cresça e se fortaleça, é fundamental conquistar credibilidade. Quando investidores confiam no ambiente de negócios, as taxas melhoram, o capital se torna mais acessível e toda a economia se beneficia.
O desafio que enfrentamos hoje é: em que nível de governança estamos para realmente avançar em credibilidade? Não basta apenas apontar problemas; é preciso indicar caminhos concretos para evoluir. O mercado é composto por diversos agentes, cada um buscando seus próprios interesses, e a interação entre eles define o rumo dos acontecimentos.
Um exemplo recente ilustra bem essa dinâmica: a Ambipar, empresa referência em sustentabilidade e integrante de índices ESG da bolsa brasileira. Após um período de queda devido à alta dos juros e à desvalorização das small caps, as ações da Ambipar surpreenderam com uma forte recuperação em 2024. Esse movimento gerou dúvidas e questionamentos, mas seguiu firme, impulsionado por parcerias internacionais e elevação da nota de crédito pela Standard & Poors.
No entanto, a situação mudou drasticamente quando o Deutsche Bank exigiu mais garantias em uma operação de Swap. Apesar de um balanço que mostrava caixa robusto, a empresa se recusou a aportar mais garantias e recorreu à justiça. O caixa desapareceu e, rapidamente, ações e títulos da Ambipar despencaram.
Esse episódio revela a responsabilidade de todos os participantes do mercado: B3, CVM, auditores e agências de rating. Nenhum deles identificou problemas antes da crise. Logo após, títulos da Raízen também sofreram forte queda, com investidores temendo rebaixamento da nota de crédito. O resultado é um ambiente desfavorável para empresas brasileiras acessarem o mercado internacional, com taxas mais altas e investidores mais cautelosos.
Quando o crédito internacional se torna escasso, o impacto chega ao Tesouro Nacional, dificultando a emissão de dívida no exterior. O apetite por ativos brasileiros diminui, o fluxo de capital se reduz, o câmbio se desvaloriza e a taxa de juros tende a permanecer elevada, especialmente em períodos de instabilidade política.
Esses efeitos podem ser revertidos se os reguladores agirem com firmeza, demonstrando que o mercado brasileiro tem regras claras e que todos devem cumpri-las. A punição dos responsáveis, em todas as instâncias, é essencial para restaurar a confiança, como se espera no caso Americanas.
A situação macroeconômica do Brasil é resultado da atuação conjunta de agentes microeconômicos. Para mudar a percepção internacional, é preciso cooperação, seriedade e compromisso com a transparência. O país precisa deixar de lado a propaganda e adotar uma postura de responsabilidade, mudando de rota para conquistar respeito e credibilidade global.









