Perdas chegam a 93% em alguns casos e acendem alerta para os riscos elevados deste tipo de operação; especialista dá dicas para evitar prejuízos em operações financeiras
Os casos de investidores que aplicaram em Certificados de Operações Estruturadas (COEs) da Ambipar e da Braskem, distribuídos por uma corretora brasileira, e que viram seu capital praticamente desaparecer nas últimas semanas, acendem um alerta para o risco oculto deste tipo de operação.
“O que parecia ser uma alternativa de ‘renda fixa com retorno turbinado’ acabou se mostrando um produto de risco elevado. Esses COEs, conforme descrito em seus documentos oficiais, eram ‘de valor nominal em risco’, ou seja, sem garantia de devolução do principal”, explica Raphael Cordeiro, CIO da Zelen Family Office, empresa especializada em gestão patrimonial e de investimentos.
Ele ressalta que, neste cenário, o investidor estava exposto a dois riscos simultaneamente: o risco do banco emissor da COE (responsável pelo pagamento do título) e o risco do ativo subjacente, ou seja, os bonds internacionais da Ambipar ou da Braskem, empresas que, respectivamente, entraram em recuperação judicial ou sofreram forte deterioração de crédito.
“Quando qualquer um desses emissores ou títulos sofre algum evento de crédito como falência, reestruturação, moratória ou intervenção estatal, por exemplo, o COE pode ser liquidado antecipadamente, e o investidor recebe apenas o ‘valor de recuperação’ de mercado, que no caso da Ambipar foi próximo de 7% do capital aplicado”, complementa Cordeiro.
1. O alerta do duplo risco
Produtos como esses combinam risco de crédito do banco emissor e risco do ativo subjacente. Isso significa que o investidor pode perder dinheiro mesmo que apenas uma das pontas vá mal. A falsa sensação de segurança, muitas vezes, leva à confusão com renda fixa tradicional.
2. Falta de liquidez pode aprisionar o capital
Os títulos da Ambipar e da Braskem deixam claro que o mercado secundário é restrito e que seus prazos finais eram de até 10 anos. Sem liquidez, o investidor fica impedido de sair da posição sem forte deságio. Em um ambiente de juros altos e instabilidade, isso pode representar um confinamento de capital.
3. Taxas altas escondem riscos elevados
O COE da Ambipar projetava cupons de 18,47% ao ano, e o da Braskem, 14,97% ao ano. No entanto, esses retornos dependiam da ausência de eventos de crédito, algo que raramente é explicado com clareza no momento da venda. Além disso, o risco de mercado — caso o investidor precise vender antes do vencimento — é alto e pouco transparente.
4. Estratégia de alocação é essencial
Produtos estruturados devem representar menos de 5% do portfólio total, segundo especialistas. Manter limites por emissor, tipo de risco e prazo é fundamental para evitar perdas significativas. A diversificação segue sendo o pilar básico de qualquer estratégia sólida de alocação.
5. Liquidez e transparência valem mais do que promessa de ganho
Em momentos de estresse financeiro, liquidez é proteção. Produtos com precificação opaca e negociação restrita aumentam a incerteza e dificultam decisões rápidas. Ativos líquidos, com mercado ativo e avaliação clara, ajudam a preservar o patrimônio e dar previsibilidade ao investidor.
Conflito de interesses e o papel do consultor
O diretor de investimentos da Zelen Family Office lembra que os COEs costumam gerar altas comissões de distribuição — neste caso, de até 1,9% ao ano, conforme indicado no Documento de Informações Essenciais (DIE) da COE Braskem, emitido em setembro de 2023. Isso pode gerar conflitos de interesse, já que o assessor é remunerado na venda, independentemente do resultado do cliente.
Segundo Cordeiro, apenas um consultor independente, sem vínculo comercial com o emissor, pode oferecer uma análise imparcial sobre o custo-benefício e a adequação ao perfil do investidor.
O recado final
“O caso Ambipar–Braskem é um lembrete amargo de que rendimento elevado sempre vem acompanhado de risco elevado — especialmente quando há duplo risco de crédito, prazo longo e falta de liquidez. Para o investidor prudente, a principal lição que fica é: diversificar, limitar a exposição a produtos complexos e buscar aconselhamento isento é a melhor forma de preservar o patrimônio”, conclui Cordeiro.









