Setor sucroenergético vê risco de concessões estratégicas no meio do “tarifaço” comercial de Washington
O etanol brasileiro pode entrar na mesa de negociações entre Brasil e Estados Unidos como moeda de troca em meio ao novo pacote de tarifas anunciado pelo governo norte-americano. De acordo com o InfoMoney, há preocupação no setor sucroenergético de que o país venha a flexibilizar tarifas sobre o etanol americano para evitar retaliações maiores sobre outros produtos brasileiros. A medida, se confirmada, teria impacto direto nas exportações e na competitividade do combustível renovável nacional.
O desequilíbrio nas tarifas e o impasse bilateral
Atualmente, os Estados Unidos aplicam uma tarifa de apenas 2,5% sobre o etanol brasileiro, enquanto o Brasil cobra 18% sobre o produto americano. Esse desequilíbrio serve de argumento para Washington pressionar por uma revisão do acordo. Conforme análise da Exame, a Casa Branca enxerga o etanol como um ativo estratégico dentro de sua agenda comercial, especialmente após as medidas protecionistas recentes impostas pelo governo Trump contra commodities agrícolas e industriais.
Setor teme desvantagem competitiva
O temor entre produtores brasileiros é que a redução unilateral das tarifas abra espaço para o avanço do etanol de milho americano no mercado doméstico. Mesmo com a tarifa atual de 18%, os EUA devem exportar cerca de 650 milhões de litros para o Brasil na safra 2025/26, segundo projeções da consultoria Datagro citadas pelo InfoMoney. No Nordeste, onde há menor oferta e maior custo logístico, o produto americano pode chegar até 15% mais barato que o etanol de cana brasileiro, segundo o setor ouvido pela Exame.
Soberania energética no centro do debate
As entidades Única e Bioenergia Brasil reforçaram que o etanol “não pode ser tratado como moeda de troca” em negociações internacionais. A CNN Brasil destaca que o setor enxerga o combustível como um ativo estratégico de soberania nacional, responsável por reduzir emissões e gerar emprego e renda no interior do país. Especialistas alertam que qualquer concessão tarifária deve considerar o impacto ambiental, econômico e social de longo prazo, além de preservar a previsibilidade regulatória.
Impactos no mercado e na balança comercial
Uma eventual revisão das tarifas sobre o etanol pode afetar não apenas a rentabilidade dos produtores brasileiros, mas também a balança comercial e a formação de preços internos de combustíveis. A abertura ao produto americano pressionaria as margens das usinas nacionais e poderia desestimular investimentos em bioenergia. Por outro lado, analistas avaliam que um acordo mais amplo com os EUA poderia incluir contrapartidas vantajosas para outros setores da economia, como o agronegócio e a indústria de manufaturados, aponta o InfoMoney.
Próximos passos nas negociações
Nos bastidores, o governo brasileiro busca equilibrar a política de biocombustíveis com a agenda diplomática. Fontes citadas pela Exame afirmam que as conversas com Washington devem se intensificar nos próximos meses, e o tema pode integrar um pacote mais amplo de cooperação energética e ambiental. O desfecho dessa disputa vai sinalizar até que ponto o Brasil está disposto a negociar sua política de etanol como instrumento diplomático — ou se manterá firme em preservar sua liderança no combustível verde.









