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sábado, novembro 15, 2025
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Medo domina o Chile: crime e migração moldam a eleição presidencial

O Chile chega às eleições presidenciais do próximo domingo em meio a um dos ambientes mais tensos de sua história recente. A pauta econômica, antes dominante, perdeu completamente espaço para o medo da criminalidade, da migração e da ação de gangues estrangeiras — sobretudo o Tren de Aragua, que se infiltrou no país com rapidez nos últimos anos.

As pesquisas mostram um país em estado de alerta. Segundo o levantamento global “O que preocupa o mundo”, da Ipsos, 63% dos chilenos colocam a criminalidade como maior preocupação, acima de saúde, educação ou economia. A taxa faz do Chile o segundo país mais preocupado com segurança entre 30 avaliados, incluindo México e África do Sul.

Explosão da violência muda a campanha eleitoral

Embora ainda seja considerado um dos países mais seguros da América Latina, a realidade chilena mudou drasticamente. A taxa de homicídios saltou de 2,32 por 100 mil habitantes em 2015 para 6,0 em 2024.

Já os sequestros atingiram recorde histórico, com 868 casos no ano passado — 40% atribuídos ao crime organizado.

Tiroteios em plena luz do dia, execuções por encomenda, esquartejamentos e sequestros para extorsão — práticas antes comuns apenas em regiões mais violentas da região — agora fazem parte do cotidiano chileno, afetando hábitos, comércio e até projeções econômicas.

Essa deterioração coincide com um forte aumento da migração, principalmente de venezuelanos: o número saltou de 82.998 em 2017 para 669.408 em 2024. O impacto foi imediato no clima social. Uma pesquisa da Activa Research mostra que 85,2% dos chilenos dizem se sentir socialmente distantes de venezuelanos, contra 55,2% em 2019.

Tren de Aragua: da fronteira ao terror nacional

A ascensão da gangue venezuelana Tren de Aragua é um dos pontos centrais da crise.

O ex-procurador Raul Arancibia lembra que ouviu falar do grupo pela primeira vez em 2021, quando duas mulheres foram detidas com ketamina na fronteira com a Bolívia. A investigação revelou que o grupo controlava rotas entre Pisiga (Bolívia) e Colchane (Chile), por onde entravam migrantes e, logo depois, armas e drogas.

Com o domínio de rotas e território, os crimes evoluíram rapidamente. Extorsões, torturas e assassinatos por encomenda, antes raros no Chile, se espalharam pelo norte do país e chegaram às grandes cidades.

“Nem mesmo os criminosos chilenos estavam acostumados com esse nível de violência”, diz Arancibia. “Eles tiveram de se adaptar — ficando ainda mais violentos.”

O governo chileno afirma ter prendido centenas de membros da gangue. Mesmo assim, especialistas alertam: o problema se tornou estrutural.

Fronteira norte vive clima de guerra

A região de Colchane, na fronteira com Bolívia e Peru, tornou-se um símbolo da crise.

A pequena cidade, antes marcada pela tranquilidade das comunidades aimarás, vive uma escalada criminal desde 2021.

Arrombamentos, roubos e até o assassinato de uma idosa de 85 anos colocaram a região no centro do debate nacional.

Moradores relatam um novo cotidiano de medo.

“Hoje você não pode sair sem trancar a porta. Se tem carro ou bicicleta, é roubado”, diz a moradora Jocely Garcia, 33.

Campanha eleitoral vira disputa entre repressão e contenção

A candidata governista Jeannette Jara, do Partido Comunista, enfrenta uma direita fortalecida.

As projeções indicam que a eleição deve ir ao segundo turno em 14 de dezembro — com o ultraconservador José Antonio Kast como favorito.

Kast defende medidas duras: expulsão de todos os imigrantes irregulares e um plano chamado “Escudo da Fronteira”, que inclui:

  • muro de 5 metros
  • trincheiras de 3 metros
  • cercas elétricas

O governo atual apostou no reforço policial, mobilização militar na fronteira e flexibilização do sigilo bancário para combater o crime organizado. Mas especialistas, como a socióloga Lucia Dammert, alertam que focar apenas nas gangues internacionais não resolve tudo.

“No fim das contas, a maioria das pessoas presas é chilena, e a maioria das gangues são comandadas por chilenos”, diz.

A eleição, portanto, pode acabar definindo não só o próximo presidente — mas o rumo do combate ao crime e da política migratória de todo o país.

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Perguntas Frequentes (FAQs)

Por que a criminalidade virou o tema central da eleição chilena?

Porque homicídios, sequestros e crimes violentos cresceram rapidamente nos últimos anos, gerando insegurança generalizada.

Quem é o Tren de Aragua?

Uma gangue venezuelana transnacional, conhecida por tráfico de pessoas, drogas, extorsões e assassinatos. Tornou-se uma das principais forças do crime no Chile.

A migração é realmente o motor da violência no Chile?

Especialistas dizem que migração e crime cresceram juntos, mas alertam que a maior parte dos criminosos no país ainda é chilena.

Quais são as propostas dos candidatos?

A direita aposta em medidas repressivas e fechamento de fronteiras; a esquerda defende vigilância financeira, forças-tarefa e reforço policial.

O Chile ainda é um país seguro?

Sim, comparado à América Latina, mas vive o maior aumento de violência em décadas.

A eleição deve ir ao segundo turno?

As pesquisas indicam que sim, com José Antonio Kast liderando a disputa.

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