O papel GMAT3, da varejista brasileira Grupo Mateus, acumula uma queda de cerca de 20% em cinco pregões, após a divulgação de um ajuste contábil que revelou erro de R$ 1,1 bilhão nos estoques da empresa.
A seguir, uma análise detalhada do ocorrido, suas causas, consequências e o que isso pode significar para investidores.
Revisão contábil e erro de estoques
Na apresentação dos resultados do 3º trimestre de 2025, o Grupo Mateus informou que realizou um ajuste nos estoques referente ao exercício de 2024. O valor estimado inicialmente em cerca de R$ 6 bilhões foi reduzido para aproximadamente R$ 4,9 bilhões, implicando uma sobrestimação de R$ 1,1 bilhão nos estoques.
O erro teria origem em falhas no cálculo do “custo médio das mercadorias vendidas” (CMMV), uma métrica sensível especialmente em empresas de varejo.
Além disso, o patrimônio líquido da empresa caiu para cerca de R$ 9,1 bilhões após o ajuste, resultando em redução de quase R$ 695 milhões.
Por que o mercado reagiu tão fortemente?
Primeiramente, o ajuste contábil expressivo gera incerteza sobre a qualidade dos controles internos do Grupo Mateus. Já havia relatórios anteriores apontando deficiências: em 2021, a auditoria identificou 42 deficiências moderadas na empresa.
Em segundo lugar, a empresa comunicou o problema de maneira considerada pouco transparente, o que aumentou a preocupação de analistas sobre governança e litígios futuros. Um relatório do banco Bradesco BBI avaliou que apesar dos números ajustados estarem próximos das expectativas, o mercado pode não aceitar facilmente ajustes retroativos sem maiores explicações.
Por fim, uma queda de 20% em apenas cinco sessões representa forte desconfiança por parte do mercado de capitais sobre a companhia — o que afeta custo de capital, liquidez e avaliações.
Impactos esperados e desafios à frente
Governança e auditoria: A empresa precisará reforçar controles internos, transparência e prestação de contas para recuperar a confiança dos investidores.
Crescimento e operação: Apesar do ajuste, o relatório aponta que o Grupo ainda pretende focar na expansão via aquisição do “Novo Atacarejo”, maturação de novas unidades e sinergias entre lojas.
Recomendações dos analistas: A Bradesco BBI manteve recomendação de “outperform” (desempenho acima da média) para GMAT3, com preço-alvo em R$ 9, mesmo com ressalvas. Por outro lado, a Nord Research adotou posicionamento neutro, citando que eventos pontuais ofuscaram a performance ajustada.
Risco reputacional e regulatório: A divulgação de erro bilionário pode atrair atenção de reguladores e investidores institucionais, elevando risco de litígios, multas ou revisões futuras.
O que isso significa para investidores?
- Se você já é acionista: é momento de acompanhar de perto os comunicados da empresa, especialmente sobre auditoria, governança e plano de ação.
- Se você estuda entrada: o preço da ação foi “ajustado” pela crise de confiança, o que pode abrir janela de oportunidade — mas somente se você confia no turnaround operacional e em melhorias de governança.
- Em ambos os casos: a volatilidade elevada exige perfil de risco adequado e horizonte de médio/longo prazo.
Conclusão
O Grupo Mateus enfrenta uma crise de credibilidade após o ajuste contábil de R$ 1,1 bilhão nos estoques, o que desencadeou queda expressiva em suas ações. Embora mantenha plano de crescimento e tenha analistas que veem potencial, o cenário exige vigilância redobrada sobre controles internos, divulgação transparente e execução eficaz das promessas. Para o investidor, a operação se torna mais arriscada — e pode trazer oportunidade, desde que acompanhado de cautela.
Perguntas Frequentes (FAQ)
O que causou o erro contábil de R$ 1,1 bilhão no Grupo Mateus?
O erro surgiu de falhas no cálculo do custo médio das mercadorias vendidas (CMMV), o que inflou o valor dos estoques referentes ao exercício de 2024.
Por que as ações GMAT3 caíram mais de 20% em cinco dias?
A queda reflete a perda de confiança do mercado após a revisão contábil, a falta de clareza imediata sobre o problema e preocupações com governança interna.
Esse ajuste afeta a situação financeira do Grupo Mateus?
Sim. O patrimônio líquido foi reduzido e houve reclassificação do valor dos estoques, o que aumenta a pressão sobre transparência, auditoria e controles internos.
A empresa corre risco de sofrer punições ou investigações?
Existe possibilidade. Erros desse tamanho podem gerar atenção de reguladores, questionamentos de investidores e risco de litígios no futuro.
Analistas ainda recomendam compra das ações GMAT3?
Alguns sim. Relatórios como o do Bradesco BBI mantiveram recomendação de outperform, mas destacam preocupação com governança. Outros, como a Nord Research, preferem postura mais cautelosa.
O Grupo Mateus continuará com seu plano de expansão?
Sim. A companhia reforçou que seguirá com estratégias como a integração do Novo Atacarejo e maturação de novas unidades, mesmo com o impacto do erro contábil.
O que investidores devem observar daqui para frente?
É essencial acompanhar novos comunicados, auditorias independentes, evolução dos controles internos e a capacidade da empresa de recompor confiança no mercado.









