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A chegada da chinesa Geely ao capital da Renault do Brasil, com a compra de 26,4% da operação, não é apenas mais uma movimentação corporativa — é um marco simbólico do novo rumo da indústria automotiva brasileira. Esse acordo, que dá origem à Renault-Geely do Brasil, escancara o avanço da China e mostra como fabricantes tradicionais estão sendo forçadas a repensar parcerias, estratégias e até sua sobrevivência no mercado.
Com a nova joint venture, o Complexo Ayrton Senna, em São José dos Pinhais, vai fabricar motores híbridos e elétricos, enquanto a rede de 250 concessionárias da Renault passa a vender veículos das duas marcas. A mensagem é clara: a China deixou de ser coadjuvante. Agora, ela dita ritmo, tecnologia e escala.
Por que a China avança tão rápido no Brasil — e por que ninguém está barrando?
Enquanto Europa e Estados Unidos criam barreiras comerciais pesadas, o Brasil mantém tarifas moderadas. Em números:
- Brasil: 35%
- Europa: a partir de 38%
- EUA: 100% a 150%
E para importação de kits CKD, que permitem montar carros aqui:
- Brasil: 16%
Segundo Cassio Pagliarini, da Bright Consulting, isso abriu espaço para o avanço chinês: “As tarifas são pequenas a ponto de ser viável pagar. O Brasil permitiu que o capital chinês ocupasse o espaço que outros deixaram vazio.”
Com isso, o país virou destino dos enormes navios carregados de veículos elétricos chineses — e também da abertura de novas fábricas, centros de P&D e parcerias.
Invasão organizada: os investimentos que já mudam o setor
A China não está “despejando carros” aqui. Ela está construindo futuro. Em 2024, empresas chinesas investiram:
- US$ 575 milhões em fábricas automotivas no Brasil
- Ficando atrás apenas de energia elétrica (US$ 1,43 bi) e petróleo (US$ 1 bi)
E as promessas anunciadas somam mais de R$ 20 bilhões em aportes. Entre elas:
- BYD — fábrica em Camaçari (BA), investimento de R$ 5,5 bi e capacidade para 150 mil carros/ano
- GWM — investimentos de R$ 10 bi até 2032 em Iracemápolis (SP)
- Leapmotor — entrada com 36 concessionárias e parceria global com a Stellantis
- Omoda/Jaecoo — planos para vender 30 mil unidades/ano
- GAC Motors — R$ 6 bilhões para fábrica e centro de P&D
A China já está presente em toda a cadeia: baterias, powertrain, software, semicondutores e até plataformas completas.
Por que montadoras ocidentais estão correndo para fazer alianças?
Porque resistir ficou caro demais.
Carlos Tavares, ex-CEO da Stellantis, foi direto ao ponto:
“As montadoras chinesas serão as salvadoras das fábricas e dos empregos europeus.”
E mais:
“No dia em que uma montadora ocidental entrar em dificuldades, uma empresa chinesa virá, assumirá e manterá os empregos — será vista como salvadora.”
Foi justamente Tavares quem fechou a parceria com a Leapmotor — modelo que agora se repete com Renault e Geely no Brasil.
A lógica é inevitável:
- A tecnologia está na China
- A escala está na China
- Os custos mais baixos estão na China
- O Ocidente ainda tem marcas fortes e redes de distribuição
E por isso, a solução virou cooperar, não competir.
Mesmo rivais históricos como GM e Hyundai agora desenvolvem cinco veículos elétricos juntos, dividindo baterias, software e plataformas.
O Brasil vira peça estratégica — mas paga preço alto na autonomia tecnológica
O país ganha:
- fábricas reativadas,
- empregos,
- investimentos bilionários,
- novas marcas,
- modernização produtiva.
Mas perde:
- domínio tecnológico,
- independência industrial,
- protagonismo em pesquisa e inovação.
A dependência da China em baterias e semicondutores cria um elo estrutural difícil de romper.
A Renault-Geely inaugura uma fase em que as parcerias deixam de ser temporárias e passam a ser parte do novo modelo de negócios global.
Por que o híbrido será dominante no Brasil por muito tempo
Pagliarini reforça que o Brasil não está pronto para o “carro 100% elétrico”:
- baterias ainda são caras
- falta infraestrutura de recarga
- logística e energia não acompanham
- híbridos permitem conteúdo local e preços mais competitivos
O híbrido será o intermediário natural — e isso favorece ainda mais as montadoras chinesas, que já dominam essa tecnologia.
Conclusão: o futuro do carro brasileiro será chinês — de um jeito ou de outro
A China domina bateria, software e fabricação em escala.
O Ocidente domina marca, tradição e mercado consumidor.
O Brasil domina… o mercado que os dois querem acessar.
O avanço chinês não é ameaça — é o novo padrão global. E, segundo Pagliarini:
“O futuro do carro é chinês de alguma forma, inclusive do carro brasileiro.”
Quer acompanhar os próximos capítulos da reindustrialização do Brasil e do embate silencioso entre Oriente e Ocidente?
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*Com informações de InvestNews
Perguntas Frequentes (FAQs)
Por que a China está crescendo tanto no setor automotivo brasileiro?
Por causa das tarifas baixas, da necessidade de expandir mercados e da capacidade tecnológica superior.
As montadoras brasileiras ganham ou perdem com esse movimento?
Ganham produção e investimentos, mas perdem autonomia tecnológica.
O Brasil vai virar “refém” da China?
Não exatamente, mas a dependência em baterias e semicondutores já é estrutural.
Carros híbridos vão dominar o país?
Sim. Eles são mais viáveis do que elétricos puros no curto prazo.
As montadoras tradicionais conseguem competir sozinhas?
Cada vez menos — por isso estão firmando alianças com marcas chinesas.
Qual é o impacto para o consumidor?
Mais opções, preços mais competitivos e acesso a tecnologias avançadas.









