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quinta-feira, novembro 27, 2025
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Como Gabriel Galípolo virou o presidente do BC que a Faria Lima aprendeu a respeitar

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O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, passou de “nome de risco” para figura de confiança da Faria Lima. Antes visto com cautela pelo mercado por sua ligação com o PT e por posições consideradas heterodoxas, ele hoje é elogiado pela condução firme da política monetária e pela resposta técnica em casos sensíveis, como a liquidação do Banco Master.

Na segunda-feira (24), no tradicional almoço da Febraban, Galípolo foi celebrado publicamente. Isaac Sidney, presidente da entidade, resumiu o espírito do setor financeiro:

“Você elevou a régua da dignidade institucional do Banco Central.”

A frase simboliza a reviravolta na imagem do economista, que assumiu o BC pressionado por juros altos, desconfiança política e dúvidas sobre sua independência.

De “suspeito de heterodoxia” a guardião da credibilidade

Quando chegou ao BC em 2023, como diretor de Política Monetária, Galípolo carregava:

  • proximidade com o PT
  • participação ativa na campanha de 2022
  • ligação com economistas heterodoxos, como Belluzzo
  • passagem pela Fazenda como secretário-executivo

Era, portanto, um perfil que despertava receio no mercado financeiro. Mas, ao substituir Roberto Campos Neto no início de 2025, sua postura surpreendeu.

Economistas de grandes gestoras e consultorias descrevem Galípolo como:

  • técnico e pragmático
  • transparente na comunicação
  • aberto ao diálogo
  • resistente a pressões políticas
  • focado em unanimidade e estabilidade

A virada de percepção foi acelerada a partir da condução da política monetária, especialmente após os primeiros meses como presidente do Copom.

Política monetária dura — e mais dura do que o mercado esperava

Em dezembro de 2024, ainda sob Campos Neto, o Copom sinalizou altas sucessivas que levariam a Selic a 12,25%.

Mas já sob Galípolo:

  • o BC elevou a Selic para 15%, maior patamar em 20 anos
  • reforçou a postura firme no combate à inflação
  • reconstruiu unidade interna após a famosa reunião dividida de maio de 2024

Essa guinada foi decisiva para reaproximá-lo da Faria Lima.

Solange Srour, do UBS, resume:

“Ele tinha o desafio de conquistar credibilidade. Conquistou.”

Alessandra Ribeiro, da Tendências, afirma:

“Era óbvio que ele teria incentivo para ser responsável — e ele entregou.”

Caso Banco Master: o teste final

O episódio que consolidou a confiança do mercado foi a liquidação do Banco Master.

Mesmo sob:

  • pressão política intensa,
  • risco de retaliação no Congresso,
  • articulações do Centrão para mudar a lei do BC,

Galípolo manteve postura técnica:

  • negou a compra do Master pelo BRB,
  • conduziu o processo com rigor regulatório,
  • reforçou a autonomia operacional do Banco Central.

Foi um recado claro ao governo e ao mercado: não há atalho, nem intervenção política no BC sob sua gestão.

O governo bate — o mercado aplaude

Dentro do governo Lula, as críticas foram intensas:

  • Haddad disse estar “louco” para ver o BC reconhecer seu esforço fiscal.
  • Gleisi afirmou que Galípolo “deixou a desejar”.

Mas as tensões não mudaram a postura do BC.

O Copom continua:

  • alertando sobre desarmonia entre política monetária e fiscal,
  • citando a alta dívida pública,
  • e reforçando que esse cenário mantém juros altos por mais tempo.

Sergio Vale, da MB Associados, aponta:

“A política fiscal ajudou a pressionar a inflação. O BC está sendo cuidadoso.”

O desafio de 2026: juros altos em ano eleitoral

O BC projeta:

  • início de cortes apenas no começo de 2026
  • Selic ainda alta: deve terminar o ano perto de 12%

Isso significa:

  • desaceleração econômica justamente no ano em que Lula buscará a reeleição
  • pressão política crescente sobre o BC
  • risco de desgaste institucional

Apesar disso, José Júlio Senna (FGV/Ibre) acredita que Galípolo não vai recuar:

“O Banco Central não vai piscar. Qualquer erro destruiria anos de trabalho.”

Credibilidade reconquistada — e o preço disso

Galípolo venceu a maior batalha de qualquer presidente do BC indicado por um governo:

ganhou a confiança de quem mais desconfiava dele.

Hoje, para a Faria Lima, ele é:

  • previsível,
  • técnico,
  • autônomo,
  • conservador (no bom sentido),
  • capaz de resistir ao calor político.

A dúvida não é mais se Galípolo é confiável — e sim até onde ele conseguirá manter essa rotatória estável em 2026.

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