O mercado de criptoativos apresentou um desempenho extraordinário nos últimos anos, impulsionado em parte pela adoção desses ativos em tesouraria corporativa. A MicroStrategy foi pioneira ao transformar o Bitcoin em um pilar estratégico de seu balanço, movimento que inspirou diversas outras empresas e ajudou a redefinir a dinâmica do setor.

No fim de outubro, porém, a MSCI abriu uma consulta pública para avaliar se companhias com uma parcela substancial de seus ativos em criptomoedas deveriam continuar elegíveis para seus índices globais. A simples possibilidade de exclusão desencadeou uma venda massiva das ações dessas empresas, especialmente da MicroStrategy, já que um parecer favorável à exclusão obrigaria fundos passivos a venderem suas posições. Na sequência, o próprio Bitcoin sofreu forte queda, diante do receio de que empresas fossem forçadas a reduzir suas posições no ativo.

Esse movimento reacendeu narrativas fatalistas sobre o “estouro da bolha” das criptos e a possibilidade de queda indefinida. Mas é essencial distinguir que a volatilidade recente não nasceu de fragilidade estrutural do mercado, pelo contrário, veio de um choque externo, provocado por uma mudança regulatória em avaliação. E choques externos, quando não alteram os fundamentos, tendem a se dissipar.

Um evento desse tipo, aliás, tem se tornado quase sistemático no universo cripto, surge a todo momento um catalisador externo para “desinflar” preços temporariamente. A volatilidade permanecerá até a decisão da MSCI, prevista para 15 de janeiro. Ainda assim, o mercado já dá sinais de reorganização. Este é o momento de análise mais racional, longe das torcidas e do pânico, pois é justamente nesses períodos que surgem oportunidades relevantes. A tecnologia por trás das criptomoedas continua inovadora, com enorme potencial de geração de valor.

Embora as preocupações da MSCI tenham sua legitimidade, a forma como o tema é conduzido poderia ser estruturada para minimizar impactos desnecessários. O que se vê, no entanto, é o oposto. Grandes bancos, que no passado declaravam abertamente que “Bitcoin não valia nada”, hoje têm posições relevantes em cripto. Um mercado maduro não pode tolerar mudanças abruptas que criam volatilidade artificial sem questionar os incentivos por trás dessas decisões.

Criptoativos continuarão existindo e evoluindo. A volatilidade é, em parte, característica intrínseca de um mercado jovem e em rápida expansão. As dúvidas sobre quedas acentuadas sempre existirão, mas é importante lembrar que estourar uma bolha exige fundamentos deteriorados. Em 2008, o problema do mercado imobiliário era que as hipotecas simplesmente não estavam sendo pagas.

No caso atual, a queda aconteceu porque muitas pessoas venderam ao mesmo tempo, não porque o sistema cripto apresentou falhas estruturais. No fim, o que realmente importa é separar ruído de fundamento. E os fundamentos da tecnologia cripto, apesar dos choques momentâneos, permanecem inalterados.