A Polícia Federal deflagrou, na última quarta-feira, uma operação para investigar o surto de um vírus letal que atingiu ararinhas-azuis em Curaçá (BA), município que abriga o maior núcleo de conservação da ave no país. A espécie, considerada extinta na natureza, é uma das mais raras do mundo e está no centro de um alerta biológico que pode ameaçar décadas de esforços de preservação.
A ação, batizada de Operação Blue Hope, cumpre cinco mandados de busca e apreensão e conta com apreensão de celulares e computadores da empresa responsável pelo criadouro.
O que motivou a operação da PF?
Segundo a corporação, há indícios de que protocolos sanitários obrigatórios foram descumpridos, permitindo a entrada e a propagação do circovírus, agente responsável por uma doença fatal entre psitacídeos — grupo que inclui araras, papagaios e periquitos.
Os investigados podem responder por:
- Disseminação de doença que causa dano à fauna
- Morte de animais silvestres
- Obstrução de fiscalização ambiental
Até o momento, não há registros de ararinhas mortas, mas o risco é considerado extremamente elevado.
Qual é o papel do Criadouro Ararinha-azul no caso?
O criadouro, responsável pelas aves mantidas em Curaçá, foi alvo dos mandados de busca. Em nota, a empresa afirmou ter “tranquilidade” quanto à investigação e declarou que foi o próprio criadouro que notificou a existência do vírus às autoridades ambientais.
A instituição defende que:
- Sempre atuou de forma regular e lícita
- Seguiu todos os protocolos exigidos pelos governos brasileiro e alemão
- A investigação deve confirmar sua idoneidade
Qual é a situação das ararinhas contaminadas?
De acordo com o ICMBio, 31 das 103 ararinhas em Curaçá testaram positivo para o circovírus — incluindo todas as 11 que estavam soltas na natureza e foram recapturadas.
O vírus:
- Não tem cura
- Provoca alta mortalidade
- Causa a chamada doença do bico e das penas, com sintomas como deformações e penas esbranquiçadas
Apesar da gravidade, a recaptura das aves só ocorreu em novembro, meses após os primeiros testes positivos, e apenas após ordem judicial.
O criadouro havia resistido à recomendação do governo, alegando que o procedimento não era necessário.
Especialistas acreditam que todas as aves do criadouro podem estar infectadas — uma possibilidade negada pela empresa, que contesta os resultados dos testes.
Um histórico de atritos e polêmicas
A situação é agravada pelo histórico da instituição. O Criadouro Ararinha-azul, antigo Blue Sky, foi fundado por Ugo Vercillo, ex-servidor do ICMBio ligado à ONG alemã ACTP, que no passado deteve 90% de todas as ararinhas-azuis do mundo.
Investigações anteriores mostraram:
- Transações milionárias da ONG com ararinhas na Europa, consideradas pelo governo brasileiro como comerciais e inadequadas
- Rompimento do contrato do ICMBio com a ACTP em 2024, após irregularidades
- Transferência da responsabilidade do manejo para o criadouro de Curaçá
Atualmente, a distribuição global das ararinhas é:
- 103 no criadouro de Curaçá
- 27 no Zoológico de São Paulo
- 158 na ACTP, na Alemanha
Criadouro multado por falhas sanitárias
No dia 25, o ICMBio multou Vercillo e o criadouro em R$ 1,8 milhão, alegando:
- Acúmulo de fezes e restos de comida nos recintos
- Falta de limpeza diária
- Funcionários usando chinelo, bermuda e camiseta, sem EPI adequado
A empresa rebateu com fotos não datadas mostrando ambientes limpos e equipes equipadas.
Como o vírus chegou ao Brasil?
Segundo o ICMBio, uma ave enviada pela ACTP ao Brasil teve um teste positivo para circovírus em janeiro de 2025.
A ONG afirma que foi um falso positivo e que a ave só viajou após resultado negativo.
O criadouro garante que:
- Todas as exigências de importação foram cumpridas
- A ave não teve contato com as contaminadas
Conclusão
A operação da PF expõe a gravidade de um surto que ameaça uma das espécies mais raras do planeta. Com dezenas de ararinhas-azuis infectadas e suspeitas de falhas sanitárias, o caso agora depende de investigações profundas para entender como o vírus entrou no país e se houve negligência no manejo da espécie.
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Perguntas Frequentes (FAQs)
O que levou a PF a investigar o criadouro?
Indícios de descumprimento de protocolos sanitários e possível propagação do circovírus entre as ararinhas-azuis.
As aves estão morrendo?
Ainda não há registros de mortes, mas o vírus costuma ser fatal na maioria dos casos.
O circovírus representa risco para humanos?
Não. O vírus não afeta pessoas nem aves de produção.
Por que a recaptura demorou?
O criadouro resistiu à recomendação inicial do governo, alegando que não era necessária. A ação só ocorreu após ordem judicial.
O criadouro foi multado?
Sim. O ICMBio aplicou multa de R$ 1,8 milhão por falhas de biossegurança.
A investigação pode responsabilizar a ACTP?
Ainda não há conclusão, mas o histórico da ONG e a chegada de uma ave com suspeita de contaminação serão avaliados.









