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segunda-feira, dezembro 29, 2025
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A falta de transparência pode levar a perdas irreversíveis

O mercado brasileiro evoluiu muito na última década, mas a transparência ainda avança em passos lentos. E quando a transparência falha, surgem distorções que moldam comportamentos, sustentam estruturas ineficientes e criam políticas de venda que beneficiam poucos e prejudicam muitos.

Durante anos, o ecossistema de investimentos no Brasil foi dominado por bancos com produtos próprios e por corretoras focadas em bolsa e derivativos. Esse cenário começou a mudar com o fortalecimento das gestoras independentes após o Plano Real, que trouxeram profissionalismo e atraíram investidores mais sofisticados. O modelo de plataforma aberta foi revolucionário, permitindo que qualquer pessoa, no varejo, acessasse produtos antes restritos a poucos.

Mas, enquanto o mercado avançava, a regulação sempre esteve atrasada e, muitas vezes, pressionada por interesses instalados.

A popularização dos títulos de renda fixa privados foi uma quebra de paradigma para o investidor individual. Aplicar diretamente nesses produtos parecia simples e seguro. Isso é verdade pelo fato de que os ativos bancários não são marcados a mercado nas carteiras de pessoas físicas. Isso significa que o investidor não vê oscilações no valor do título, mesmo quando o risco real muda drasticamente.

Os eventos de crédito dos últimos anos foram relativamente pequenos, e o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) absorveu os prejuízos com tranquilidade. Mas o caso do Banco Master acendeu o alerta de que a conta pode ficar grande demais.

Anos atrás, o regulador decidiu que CRIs, CRAs e debêntures deveriam ser marcados a mercado para pessoas físicas, o que foi um avanço. Mas ativos bancários, por pressão de bancos e corretoras, ficaram de fora. Assim, papéis de instituições com problemas continuam sendo exibidos na carteira do investidor como se nada estivesse acontecendo.

O ponto central é que, se o investidor visse o preço real desses títulos, perceberia imediatamente o risco que está correndo. Bancos com fragilidade teriam enorme dificuldade de captar recursos, o que evitaria distorções e reduziria o tamanho dos prejuízos. A transparência protege, mas, quando ela é negada, o risco se espalha pelo sistema.

O próprio FGC se torna parte da distorção. Ele deveria focar em proteger depósitos e ativos de liquidez diária, não blindar a tomada de risco em produtos longos. Quando um título não é marcado a mercado, o FGC acaba cobrindo valores muito maiores do que deveria. E, enquanto isso, investidores seguem comprando produtos que oferecem retorno “milagroso”, acreditando em risco zero.

A falta de transparência na formação de preços corrói a integridade do mercado de capitais. Isso foi visto nas debêntures da Rodovias do Tietê. Está sendo visto agora nos títulos do Banco Master. E, em breve, em uma nova história, se nada mudar.

O dia em que o investidor brasileiro reconhecer que transparência não é um detalhe, mas a principal forma de proteção do seu patrimônio, ele se afastará das estruturas que prosperam na opacidade e buscará profissionais realmente qualificados e com estrito alinhamento de interesses. Sem essa mudança de mentalidade, a opacidade seguirá corroendo confiança, distorcendo preços e, inevitavelmente, gerando perdas que poderiam ter sido evitadas.

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