Empresas que desenvolvem soluções tecnológicas para o campo começam a exportar inovação brasileira para mercados da América Latina, África e Ásia.
O agronegócio brasileiro não é mais apenas sinônimo de produção em larga escala. Nos últimos anos, o setor tem vivido uma revolução silenciosa com o avanço das agritechs — startups que usam tecnologia para aumentar a eficiência, reduzir perdas e otimizar a gestão agrícola. Agora, além de atender o mercado interno, essas empresas estão mirando a exportação de suas soluções para países emergentes com desafios semelhantes.
Segundo dados da Embrapa e da plataforma Radar Agtech, o Brasil já conta com mais de 1.900 agritechs ativas, sendo que cerca de 12% delas já operam ou possuem parcerias fora do país. A expectativa é que esse número cresça em 2025, puxado pela demanda internacional por tecnologias adaptáveis a realidades tropicais e de baixo custo.
A Agrosmart, uma das pioneiras do setor, atua hoje em sete países da América Latina, oferecendo monitoramento climático e gestão hídrica baseada em dados. Em entrevista à Bloomberg Línea, a CEO Mariana Vasconcelos afirmou que o diferencial das soluções brasileiras está na capacidade de operar em ambientes hostis, com baixa conectividade e alta variabilidade climática — realidade comum a muitos países africanos e asiáticos.
Outro destaque é a Solinftec, empresa de automação agrícola nascida em Araçatuba (SP) que já atua nos EUA, Colômbia e Canadá. A empresa foi citada pelo Financial Times como um dos principais exemplos de exportação de inteligência artificial para o campo. Em abril, a Solinftec anunciou um novo acordo com produtores da Índia, ampliando sua atuação global.
Especialistas como Alexandre Mendonça de Barros, da MB Agro, destacam que o avanço das agritechs brasileiras reforça o papel do país como potência não apenas agrícola, mas também tecnológica. “Nos tornamos referência em soluções tropicais. Isso é inédito na história da agricultura global”, disse ele ao Valor Econômico.
A internacionalização das agritechs ainda enfrenta obstáculos, como a burocracia para exportação de serviços e a adaptação a regras locais. Mas o movimento sinaliza um novo ciclo de inovação e geração de valor no campo brasileiro — com potencial de impacto global.