A dívida pública mundial está chegando a um patamar que não se via desde tempos extremos — e o alerta já está soando entre economistas, investidores e organismos internacionais. Em ritmo acelerado, o endividamento global se aproxima dos 100% do PIB e projeta ultrapassar, nos próximos anos, o auge registrado no período pós-pandemia.
Essa trajetória preocupa porque revela um cenário em que países gastam cada vez mais do que arrecadam, empurram vencimentos para frente e se tornam mais vulneráveis a choques, crises e mudanças no humor dos investidores. E, como você vai ver, economias emergentes como o Brasil podem ser especialmente atingidas.
Por que a dívida global está subindo tão rápido?
O principal fator por trás desse salto é o avanço dos déficits fiscais, que têm forçado governos a se endividar continuamente. Para reduzir o impacto dos juros, muitos países passaram a encurtar o prazo dos títulos que emitem. Isso diminui o custo imediato, mas deixa as economias mais expostas caso ocorra uma mudança brusca na percepção de risco do mercado.
Também pesam três tendências de longo prazo:
- Gastos públicos elevados com saúde, impulsionados pelo envelhecimento da população
- Aumento dos investimentos em defesa, em meio a tensões geopolíticas
- Pressão populista por mais despesas, mesmo em países já muito endividados
Juntas, essas forças criam uma equação perigosa: mais dívida, mais vulnerabilidade e menos espaço para ajustes em emergências.
O endividamento já voltou ao nível da pandemia?
Quase lá — e subindo rápido.
No fim do segundo trimestre, a dívida pública global atingiu US$ 101,3 trilhões, um aumento de 9% em apenas um ano. Isso equivale a 97,6% do PIB mundial, segundo dados do IIF, que reúne mais de 400 instituições financeiras.
Se o ritmo continuar, o índice deve ultrapassar o pico registrado no pós-pandemia, quando chegou a 105% do PIB, e caminha para níveis históricos semelhantes aos do pós-Segunda Guerra Mundial.
Quais países estão puxando essa alta?
O grupo é formado justamente pelas maiores economias do mundo:
China, França, Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido e Japão.
O caso mais preocupante é o dos Estados Unidos, cuja dívida federal pode chegar a 145% do PIB até 2050 caso nada mude. Para 2025, o déficit projetado é de 5,9% do PIB, segundo o Tesouro americano.
Esses números mostram que não se trata apenas de países pobres enfrentando dificuldades: são nações ricas gastando mais do que deveriam.
E o Brasil? A situação é mais grave do que parece?
Para muitos economistas, sim.
O endividamento brasileiro subiu mais de 6 pontos percentuais desde o início do governo Lula (PT) e pode alcançar 9 pontos até 2026 — um patamar considerado arriscado.
Segundo o FMI, a dívida pública bruta brasileira chegou a 89% do PIB no segundo trimestre, a maior entre os emergentes (que têm média de 72,7%). O único país em situação pior no grupo é a China.
Pelo critério do Banco Central, que exclui títulos na carteira da instituição, o número foi de 78,1% em setembro.
O ponto crítico é que dívidas grandes exigem juros mais altos para atrair compradores. Isso significa mais despesa para o governo e menos espaço para reduzir a Selic no futuro.
O que mantém essa trajetória de dívida crescente?
Há um elemento comum entre quase todos os países: déficits persistentes.
Quando despesas ficam cronicamente acima das receitas, o governo precisa se financiar com novos empréstimos — mesmo sabendo que isso agrava o problema.
O IIF destaca que ondas populistas ao redor do mundo têm travado reformas impopulares, como cortes de gastos e ajustes fiscais, que seriam essenciais para frear o endividamento.
Há risco de uma nova crise global?
Para alguns especialistas, sim.
O presidente do BIS, Pablo Hernández de Cos, afirmou recentemente que está “angustiado” com a forma como as dívidas soberanas estão crescendo e sendo financiadas.
Ele lembrou que, antes da crise de 2008, o BIS também alertou sobre riscos no crédito privado — e foi ignorado.
O Monitor Fiscal do FMI projeta que, em um cenário adverso, a dívida global pode atingir 117% do PIB em 2027, o maior nível desde os anos 1940.
Conclusão: o mundo está entrando em uma zona de risco?
Os dados mostram que sim. A tendência de alta é forte, persistente e sem sinal claro de reversão. Países ricos têm poupança elevada e capacidade de aumentar impostos; emergentes como o Brasil, não. Isso coloca o país em posição mais frágil caso o mercado exija juros maiores.
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Perguntas Frequentes (FAQs)
A dívida global pode ultrapassar o nível pós-pandemia?
Sim. Com déficits crescentes, o FMI projeta que ela deve superar o pico de 105% do PIB nos próximos anos.
Por que os países estão se endividando tanto?
O avanço dos gastos públicos, o envelhecimento populacional, despesas com defesa e pressões políticas ampliam os déficits e empurram o endividamento para cima.
O Brasil está em situação pior que outros emergentes?
Sim. Pelo critério do FMI, o Brasil tem a maior dívida bruta entre os emergentes, exceto a China.
Dívida alta significa juros mais altos?
Em geral, sim. Quanto maior o risco, maior o juro exigido pelos investidores.
Países ricos podem conviver com dívidas maiores?
Podem, porque têm mais capacidade de arrecadação e poupança interna mais elevada, diferente da realidade brasileira.
O mundo corre risco de nova crise?
O BIS e o FMI alertam para riscos crescentes caso a trajetória de endividamento não seja corrigida.








