A Câmara dos Deputados aprovou, na madrugada desta quarta-feira (10), o texto-base do chamado PL da Dosimetria, que reduz penas para condenados por crimes ligados aos atos golpistas — incluindo o ataque de 8 de janeiro de 2023.
A proposta segue agora para o Senado, onde deve ser votada ainda este ano.
O projeto pode beneficiar diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos e 3 meses por tentativa de golpe de Estado.
Segundo cálculos da equipe do relator Paulinho da Força (Solidariedade-SP), se o texto virar lei, a pena em regime fechado cairia para cerca de 2 anos e 4 meses.
A mudança não anula condenações, mas reduz o tempo de encarceramento e acelera a progressão de regime, o que tem gerado forte disputa dentro e fora do Congresso.
Uma votação marcada por tumulto, expulsão de deputado e imprensa retirada do plenário
A decisão de pautar o projeto pegou líderes partidários de surpresa.
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), anunciou a votação ainda na manhã de terça (9).
Horas depois, o plenário virou palco de um dos episódios mais turbulentos do ano:
- Glauber Braga (PSOL-RJ) ocupou a cadeira da presidência em protesto
- foi retirado à força por policiais legislativos
- a TV Câmara interrompeu a transmissão,
- e a imprensa foi retirada do plenário — algo inédito na Casa
Mesmo em meio ao caos, o texto-base foi aprovado.
O que o PL da Dosimetria muda exatamente?
Segundo o relator, o projeto:
• reduz penas, mas não concede anistia
• altera a forma como crimes relacionados são contabilizados
• flexibiliza progressão de regime
• permite abatimento de pena com dias de trabalho em casos de prisão domiciliar
Entre as mudanças mais relevantes:
1. Crime de golpe passa a absorver o crime de abolição violenta do Estado Democrático de Direito
Isso, no caso de Bolsonaro, reduz a pena em 6 anos e 6 meses.
2. Progressão de regime após 1/6 da pena
Hoje, exige-se 1/4.
Com a mudança, condenados podem passar para regime mais brando muito mais rápido.
3. Desconto de pena por dias trabalhados
Para quem cumpriu parte da condenação em prisão domiciliar com tornozeleira, cada 3 dias trabalhados abatem 1 de pena.
O relator diz que não é anistia — mas governistas falam em “risco de impunidade”
Paulinho da Força afirmou:
“Não estamos dando anistia. Não tem anistia. As pessoas vão continuar pagando.”
Mas parlamentares governistas argumentam que a medida enfraquece decisões recentes do STF e pode ser interpretada como flexibilização para crimes contra a democracia.
Paulinho disse ter discutido o texto com:
- lideranças partidárias
- integrantes do STF
- e parlamentares do PL, incluindo Flávio Bolsonaro (PL-RJ)
Segundo ele, não sabe se Bolsonaro foi informado sobre o teor das alterações.
Bolsonaro segue preso — e a mudança pode afetar sua situação rapidamente
O ex-presidente está preso desde 22 de novembro, após violar a tornozeleira durante prisão domiciliar.
O ministro Alexandre de Moraes considerou que houve tentativa de fuga e decretou prisão preventiva.
O trânsito em julgado da condenação foi declarado em 25 de novembro — o que significa que não cabem mais recursos.
Caso o PL seja aprovado no Senado e sancionado (ou não vetado integralmente), a pena de Bolsonaro pode cair drasticamente.
O que acontece agora?
- O Senado deve votar o projeto até o fim do ano, segundo Davi Alcolumbre.
- Se aprovado, segue para a mesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que pode vetar total ou parcialmente.
- Eventuais trechos vetados podem ser derrubados pelo Congresso.
Conclusão: Congresso acirra crise institucional ao mexer nas penas do 8 de Janeiro
A aprovação acende um dos debates mais sensíveis desde os ataques às sedes dos Três Poderes:
até que ponto o Legislativo pode redesenhar penas já aplicadas pelo STF?
Enquanto aliados de Bolsonaro comemoram o avanço, governistas veem a medida como um movimento de risco para a estabilidade democrática.
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Perguntas Frequentes (FAQs)
O PL reduz a pena de Bolsonaro?
Sim. A pena em regime fechado pode cair para cerca de 2 anos e 4 meses.
O projeto concede anistia?
Não. Segundo o relator, ele reduz penas, mas não apaga condenações.
Por que a votação gerou tumulto?
Houve protestos no plenário, expulsão de deputado e retirada da imprensa — algo sem precedentes.
O que muda na progressão de regime?
Condenados poderão progredir após 1/6 da pena, em vez de 1/4.
O texto já está valendo?
Não. Precisa ser aprovado no Senado e sancionado por Lula.
Bolsonaro está preso por quê?
Por tentar fugir após violar a tornozeleira durante prisão domiciliar.









