Com estabilidade atrelada a moedas tradicionais, stablecoins ganham espaço em pagamentos, investimentos e até como moeda de países em crise.
Se no início as criptomoedas eram vistas como apostas arriscadas e voláteis, hoje as stablecoins surgem como alternativas cada vez mais relevantes no sistema financeiro global. Diferente do Bitcoin ou do Ethereum, esses ativos digitais são lastreados em moedas fiduciárias — como o dólar ou o euro — e oferecem um grau de previsibilidade que atrai investidores, empresas e até governos.
Segundo relatório da Chainalysis divulgado pela Bloomberg, o volume de transações com stablecoins ultrapassou US$ 7 trilhões em 2024, superando inclusive o volume movimentado por cartões de crédito internacionais em diversos mercados emergentes. A explicação está na facilidade: transferências instantâneas, baixas taxas e estabilidade cambial tornam essas moedas digitais ideais para transações transfronteiriças.
No Brasil, a aceitação também avança. A Circle, emissora do USDC, já anunciou parcerias com bancos e fintechs locais para facilitar pagamentos internacionais com menos burocracia e custo. Para empresas que trabalham com importação e exportação, o uso de stablecoins já representa economia de até 80% nas tarifas, segundo estimativa da Valor Capital.
Mais do que tecnologia, esse movimento tem impacto macroeconômico. Em países com inflação alta ou moeda fraca, como Venezuela, Argentina ou Nigéria, as stablecoins já são usadas como reserva de valor e meio de troca no dia a dia — muitas vezes sem passar por bancos. “Elas viraram o dólar do pobre”, resumiu o economista Steve Hanke, da Johns Hopkins University, ao Estadão.
Ainda há desafios regulatórios, claro. Mas o avanço das stablecoins aponta para uma revolução silenciosa: uma infraestrutura financeira mais ágil, global e — se bem conduzida — mais democrática. No fim, não se trata apenas de cripto, mas de uma nova camada de conectividade financeira.