O mercado brasileiro pode estar confiante demais — e cauteloso de menos. Essa é a avaliação do JPMorgan, que fez um alerta direto aos investidores: há um excesso de “wishful thinking” em torno das eleições de 2026, especialmente na aposta de uma guinada política à direita que pode não se concretizar.
Segundo o banco, esse viés otimista ignora riscos relevantes e pode gerar surpresas negativas nos preços dos ativos brasileiros.
Otimismo político pode estar descolado da realidade
Em relatório recente, o JPMorgan aponta que parte significativa dos investidores locais já opera como se um cenário mais favorável ao mercado fosse inevitável em 2026. O problema? Os dados não garantem isso.
Analistas do banco ouviram gestores e estrategistas durante o evento anual da EMTA (Associação de Negociação de Mercados Emergentes) e perceberam um padrão claro:
o mercado parece precificar desejo, não necessariamente probabilidade.
Lula segue competitivo e isso muda o jogo
O relatório destaca um ponto incômodo para parte do mercado: o poder do incumbente.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mantém vantagens estruturais importantes, como:
- força política
- base eleitoral consolidada
- programas de transferência de renda
Esses fatores, segundo o JPMorgan, aumentam a incerteza eleitoral e tornam arriscada qualquer aposta antecipada em mudança de rumo.
Direita fragmentada amplia risco político
Outro fator de alerta é a fragmentação do campo da direita, agravada após o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro ao filho, Flávio Bolsonaro.
Na avaliação do banco, esse cenário dificulta a construção de um nome competitivo e eleva o risco de manchetes negativas, como já ocorreu no início de dezembro, quando:
- a bolsa caiu forte
- o dólar disparou
- os juros futuros subiram
Tudo isso após ruídos políticos e fiscais.
Dívida brasileira entra no radar de risco
Apesar dos juros altos tornarem os ativos locais atrativos no papel, o JPMorgan afirma que isso não é suficiente para compensar os riscos.
Alguns analistas ouvidos pelo banco chegaram a recomendar evitar exposição à dívida brasileira, ao menos até que haja:
- mais clareza sobre o cenário eleitoral
- sinalização fiscal mais sólida
O recado é claro: carrego alto não elimina risco político.
Emergentes ainda atraem, mas dólar pode surpreender
O relatório também traz uma visão mais ampla sobre mercados emergentes. Segundo o JPMorgan:
- o carry trade segue atrativo em várias moedas emergentes
- há baixa preocupação com recessão global no curto prazo
Por outro lado, o banco alerta que o dólar pode não ser tão fraco em 2026 quanto muitos investidores esperam — o que afeta diretamente fluxos para países como o Brasil.
Juros globais e Fed entram no radar
Outro ponto sensível citado no relatório é o baixo espaço para cortes agressivos de juros, tanto em economias desenvolvidas quanto emergentes.
Além disso, o JPMorgan chama atenção para um risco pouco precificado: a troca no comando do Federal Reserve, com a saída de Jerome Powell prevista para o primeiro semestre.
Mudanças na independência do Fed podem gerar volatilidade global.
Alerta final: cautela é a palavra-chave
O recado do JPMorgan é direto: o mercado brasileiro pode estar correndo à frente dos fatos. Apostar tudo em um cenário político idealizado pode custar caro.
Em um ambiente de incerteza fiscal, eleição indefinida e riscos externos, gestão de risco volta a ser mais importante do que narrativa otimista.
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Perguntas Frequentes (FAQs)
O mercado está otimista demais com 2026?
Segundo o JPMorgan, sim. Há excesso de expectativa positiva sem base sólida.
Lula ainda é competitivo eleitoralmente?
Sim. O banco destaca o poder do incumbente e programas sociais.
Por que a dívida brasileira preocupa?
Por causa dos riscos fiscais e da incerteza política, apesar dos juros altos.
Emergentes ainda são atrativos?
Sim, especialmente via carry trade, mas com cautela.
O dólar pode surpreender em 2026?
Pode. O JPMorgan vê menos espaço para um dólar muito fraco.








