Com mais informação e acesso facilitado, pequenos investidores já movimentam bilhões e mudam o perfil do mercado de capitais.
Durante décadas, o mercado de ações no Brasil foi território quase exclusivo de grandes fundos, investidores estrangeiros e instituições financeiras. Mas nos últimos cinco anos, um novo protagonista vem tomando espaço: o investidor pessoa física. Com a popularização das corretoras digitais, conteúdos de educação financeira e isenção de taxas, milhões de brasileiros passaram a comprar ações, fundos imobiliários e ETFs — e isso está mudando o perfil da Bolsa.
De acordo com dados da B3, o número de CPFs cadastrados na bolsa passou de menos de 700 mil em 2018 para mais de 6 milhões em 2024. Esse movimento, apelidado por analistas de “democratização dos investimentos”, tem impulsionado setores como varejo, bancos digitais e fundos imobiliários — preferências recorrentes entre os iniciantes.
Mas não se trata apenas de volume. O investidor pessoa física também está mais sofisticado. Segundo pesquisa da Anbima divulgada pelo Valor Econômico, 42% dos novos investidores consultam fontes especializadas como Infomoney, Suno e Empiricus antes de tomar decisões. O uso de plataformas como o CEI (Canal Eletrônico do Investidor) e aplicativos de análise cresceu 38% em um ano, mostrando um público mais informado e ativo.
Com esse novo perfil, empresas que antes ignoravam o varejo passaram a pensar em estratégias específicas para atrair o pequeno investidor, desde roadshows online até materiais educativos nos sites de RI. “O varejo não é mais coadjuvante — ele pode ser o fator decisivo no sucesso de uma oferta pública”, afirmou ao Estadão o analista da XP, Eduardo Nishio.
Ainda há desafios: muitos entram na Bolsa sem preparo, expostos a oscilações e riscos que não compreendem. Por isso, especialistas alertam que a educação financeira precisa acompanhar o crescimento da base de investidores, sob risco de frustrações e perdas desnecessárias.
Mesmo assim, é fato: o pequeno investidor está mudando a cara da Bolsa brasileira — e, com ele, vem um mercado mais diverso, dinâmico e, talvez, mais conectado com a realidade do país.