Você paga imposto, o governo faz aporte… e algumas estatais simplesmente continuam no vermelho. Nos últimos dez anos, um grupo de empresas federais consideradas “problemáticas” consumiu R$ 15,8 bilhões em dinheiro público, segundo levantamentos recentes. E o alerta é direto: o Tesouro já trata essas companhias como risco fiscal, porque podem exigir novos socorros para não colapsar.
O caso dos Correios virou o símbolo do problema: uma estatal pressionada por concorrência, tecnologia e má eficiência, agora em busca de financiamento com aval do governo. Só que ela não está sozinha.
Quais estatais mais drenaram recursos?
A campeã de aportes é a Infraero, que recebeu cerca de R$ 9,8 bilhões entre 2015 e 2024. O motivo é conhecido: com aeroportos lucrativos sendo concedidos à iniciativa privada, sobrou para a Infraero uma estrutura mais cara e menos rentável.
Na lista também aparecem:
- Correios: aporte de R$ 224 milhões em 2018 e, agora, forte demanda por financiamento
- ENBPar: cerca de R$ 5,2 bilhões desde 2021 e pedido adicional de R$ 1,4 bilhão
- Companhias Docas: juntas, somam aproximadamente R$ 547,6 milhões em aportes (CDC, CDP, Codeba, CDRJ e Codern)
O ponto central é isolado, mas pesado: algumas dessas empresas já têm patrimônio líquido negativo, ou seja, mais dívidas do que ativos. Isso é praticamente uma sirene ligada dentro do setor público.
“Mas estatais não dão retorno para o governo?”
Algumas dão — e muito. Só que o retorno é concentrado em poucas gigantes.
Entre 2017 e 2024, o governo colocou dinheiro em estatais via aportes e subvenções, mas recebeu bem mais em dividendos, juros e amortizações. O problema é que a maior parte disso veio de quatro nomes:
Petrobras (PETR4), BNDES, Banco do Brasil (BBAS3) e Caixa.
Em 2024, 96% do dinheiro que o Tesouro recebeu em dividendos e juros veio desse grupo. Ou seja: há estatais que sustentam o caixa, enquanto outras viram custo recorrente.
E quando olhamos só para o “grupo de risco”, o retorno é baixíssimo: cerca de R$ 1,6 bilhão em dez anos, o que dá algo como 10% do que foi aportado. Em alguns casos, como Infraero e certas docas, foi zero retorno.
Por que isso vira risco para 2026?
Porque as regras fiscais mudaram. Com o arcabouço fiscal, aportes em estatais não dependentes contam dentro do limite de despesas. Traduzindo: socorrer estatal agora aperta o orçamento e força corte em outras áreas.
Por isso, o governo tende a preferir “soluções indiretas”, como:
- aval do Tesouro para empréstimos (em vez de capitalização direta)
- entrada de novos sócios
- reestruturações internas com metas duras
O exemplo mais recente é o dos Correios: a tentativa inicial de captação maior travou por causa dos juros, e depois o Tesouro aprovou uma operação de R$ 12 bilhões com bancos, para reduzir custo financeiro e viabilizar o plano de recuperação.
O problema é só fiscal? Não. É de modelo
A discussão vai além de “cabe no orçamento”. O que está em jogo é o modelo de Estado empresário operando com baixa eficiência e custos altos, sem entregar retorno proporcional.
Em bom português: manter empresa que não se sustenta vira um ciclo de aportes, dívidas e novos pedidos, enquanto o contribuinte banca a conta e o serviço nem sempre melhora.
Aqui no Brasilvest, a leitura é direta: quando o dinheiro público vira “tampa de buraco” recorrente, o risco é sempre o mesmo — a conta aparece no orçamento, nos juros e na qualidade do gasto.
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Perguntas Frequentes (FAQs)
O que são estatais “problemáticas”?
São empresas públicas com prejuízos recorrentes, baixo retorno e risco de precisar de novos aportes do governo.
Quanto elas custaram ao governo em 10 anos?
Cerca de R$ 15,8 bilhões em aportes, segundo levantamentos do período.
Quais foram as que mais receberam recursos?
A Infraero lidera, seguida por ENBPar e aportes menores em Correios e companhias docas.
Por que o governo não socorre logo com dinheiro?
Porque o arcabouço fiscal limita gastos. Aportes diretos apertam o orçamento e exigem cortes em outras despesas.
Estatais dão lucro para o governo?
Algumas sim, principalmente Petrobras (PETR4) e bancos públicos. Mas o retorno é muito concentrado e não cobre o rombo das “problemáticas”.









