Não é mais só compra de produtos. É controle da produção. Em silêncio e com cheques bilionários, empresas chinesas estão ampliando sua presença na mineração do Brasil e já respondem por fatias relevantes de metais estratégicos. Em alguns casos, o domínio se aproxima de níveis preocupantes.
Só no último ano, os investimentos chineses no país somaram US$ 4,2 bilhões, um salto expressivo frente ao ano anterior. O foco é claro: setores estruturais como energia, petróleo, infraestrutura e mineração. E é justamente nesse último ponto que o Brasil entra como peça-chave no tabuleiro global.
Por que a mineração virou prioridade para a China?
O Brasil é protagonista mundial na produção de diversos minérios essenciais para a indústria moderna. Baterias, carros elétricos, aço, eletrônicos e até tecnologias ligadas à inteligência artificial dependem desses insumos.
A estratégia chinesa não é improvisada. Trata-se de um plano de Estado, que mistura segurança de suprimento com lógica de mercado. A ideia é simples: garantir acesso às matérias-primas e, ao mesmo tempo, lucrar com elas.
Níquel: metade da produção pode ir parar nas mãos chinesas
O caso mais emblemático envolve o níquel. A mina de Barro Alto, em Goiás, antes controlada pela Anglo American, foi comprada pela MMG, ligada à estatal China Minmetals.
Se o negócio for aprovado pelo Cade, a China passará a controlar cerca de 50% da produção brasileira de níquel. Esse metal é vital para o aço inoxidável e, principalmente, para baterias de lítio, usadas em carros elétricos e celulares.
E faz sentido: a China responde por cerca de 75% da produção global de baterias de lítio.
Lítio: o novo alvo da eletrificação
Falando em eletrificação, o lítio virou prioridade recente. A montadora chinesa BYD criou, em 2023, uma subsidiária específica para mineração no Brasil e adquiriu direitos no Vale do Jequitinhonha, hoje chamado de Vale do Lítio.
Além disso, a empresa manteve conversas para uma possível parceria com a Sigma Lithium, maior produtora do minério no país. O movimento mostra que a China quer integrar toda a cadeia, da mina ao carro elétrico.
Nióbio: quase um terço já está sob controle chinês
O nióbio é praticamente uma exclusividade brasileira. Cerca de 90% da produção mundial sai do Brasil. Ele é essencial para ligas metálicas resistentes, usadas em aviões, foguetes, carros e grandes obras.
A líder do setor é a CBMM, que abriu parte do capital para grupos chineses em 2011. Além disso, minas que pertenciam à Anglo American e outras operações menores passaram para estatais chinesas.
No fim das contas, aproximadamente 30% do nióbio brasileiro já está ligado a empresas da China.
Estanho e cobre: peças-chave da tecnologia
No estanho, usado em soldas eletrônicas, a presença chinesa é ainda mais direta. O Brasil responde por 8% da produção global, e uma única mina na Amazônia concentra 30% da produção nacional, hoje controlada por uma estatal chinesa.
Já no cobre, essencial para condução de energia e base da economia digital, a China também avançou. Mesmo com produção modesta no Brasil, empresas chinesas já controlam cerca de 5% da extração nacional.
Minério de ferro: o próximo passo?
O minério de ferro ainda é uma exceção. O Brasil é o segundo maior exportador do mundo, e 70% das exportações vão para a China. Mesmo assim, até agora, os chineses não tinham produção própria aqui.
Isso deve mudar. Um projeto no norte de Minas Gerais, ligado à Geely, prevê investimento de US$ 2,1 bilhões e produção de minério de alta qualidade, semelhante ao de Carajás, da Vale (VALE3).
Se sair do papel, o projeto pode responder por 13% do minério premium produzido no Brasil.
O que tudo isso significa para o Brasil?
O avanço chinês levanta debates importantes sobre soberania, estratégia industrial e dependência econômica. Ao mesmo tempo em que os investimentos geram empregos e movimentam a economia, também concentram ativos estratégicos nas mãos de um único país.
Esse é um tema que merece atenção constante. E você pode acompanhar análises, bastidores e impactos desse movimento no Brasilvest.
Perguntas Frequentes (FAQs)
A China já controla a mineração no Brasil?
Não totalmente, mas já domina fatias relevantes de metais estratégicos como níquel, nióbio e estanho.
Por que o Brasil é tão importante para a China?
Porque o país é grande produtor de minérios essenciais para tecnologia, energia e indústria pesada.
O avanço chinês é ilegal?
Não. Os investimentos seguem a legislação brasileira, mas muitos negócios ainda dependem de aprovação de órgãos reguladores.
Isso pode afetar empresas brasileiras?
Pode, principalmente em termos de competição, preços e controle da cadeia produtiva.
O minério de ferro também será dominado?
Ainda não, mas há projetos em andamento que indicam esse caminho.
O que o investidor deve observar?
Movimentos de aquisições, licenças ambientais e decisões do Cade, além do impacto nas empresas listadas na B3.









