Mesmo sem abastecer um carro, você paga a conta quando o preço do barril dispara no mercado internacional.
O preço do petróleo é um dos termômetros mais sensíveis da economia global — e seus reflexos chegam ao bolso do brasileiro mesmo que você não dirija, não viaje e nem use gás encanado em casa. A commodity é estratégica e seu valor impacta diretamente desde a inflação até o câmbio.
Quando o barril do tipo Brent — referência internacional — sobe, os combustíveis ficam mais caros. Isso afeta o transporte de cargas, a produção agrícola e a conta de luz, já que parte das termelétricas brasileiras depende de óleo combustível. Resultado: o custo de vida sobe, pressionando o IPCA, o índice oficial da inflação. Segundo o IBGE, em 2023 o grupo de transportes foi um dos maiores vilões da inflação, puxado pelos combustíveis.
Além disso, o petróleo influencia a cotação do dólar no Brasil. Países exportadores de petróleo — como os membros da Opep+ — ganham mais dólares com o barril valorizado, enquanto países importadores, como o Brasil, precisam gastar mais da moeda americana. Isso tende a pressionar o câmbio e impactar produtos importados, como eletrônicos, fertilizantes e até o pãozinho, já que o trigo é cotado em dólar.
De acordo com a Bloomberg, o petróleo Brent oscilou entre US$ 70 e US$ 95 nos últimos 12 meses, refletindo tensões geopolíticas, corte de produção por países árabes e demanda global. Para o economista Alex Agostini, da Austin Rating, “o petróleo age como uma espécie de gatilho da inflação global. Quando sobe demais, os bancos centrais do mundo todo ligam o sinal de alerta”.
No Brasil, a Petrobras ainda pratica a política de paridade internacional de preços — o chamado PPI — que vincula o valor dos combustíveis às cotações do mercado externo. Assim, qualquer variação no petróleo ou no dólar pode ser repassada às refinarias, e daí aos postos e consumidores. E isso tem impacto político também, já que o preço da gasolina influencia diretamente a popularidade do governo.
Entender a dinâmica do petróleo é, portanto, mais do que uma curiosidade sobre o mercado financeiro. É uma peça-chave para interpretar a política de preços, o humor do mercado e os rumos da inflação. A próxima vez que ouvir falar no preço do barril, lembre-se: ele já está rondando o seu orçamento.