Sistema de metas ancora expectativas; credibilidade e horizonte relevante determinam a dose do remédio monetário.
O Brasil adota o sistema de metas de inflação, em que o Conselho Monetário Nacional (CMN) define um alvo (ponto central) e uma banda de tolerância. Cabe ao Banco Central calibrar a Selic para que a inflação convirja ao alvo no chamado “horizonte relevante”. Segundo guias do próprio BC e análises do G1, a meta funciona como régua para expectativas; quando o mercado acredita que o alvo será cumprido, a política monetária precisa de menos força.
A literatura (Ipea/FGV) mostra que a credibilidade do regime é tão importante quanto o número escolhido. Mudanças frequentes de meta, ou sinais de tolerância com estouros recorrentes, elevam o “prêmio de risco” embutido nos preços e no câmbio. A Bloomberg ressalta que, em emergentes, choques de alimentos e combustíveis são comuns; por isso, comunicação clara sobre o horizonte de convergência e a leitura de núcleos de inflação torna-se crucial.
Quando expectativas se desancoram, o BC reage subindo a Selic para esfriar a demanda e conter a inércia inflacionária. A Reuters destaca que, nesses momentos, o câmbio também pesa: depreciação do real encarece tradables, realimentando a inflação. Por isso, decisões do CMN que reforçam previsibilidade — seja sobre a meta em si, seja sobre sua permanência — tendem a reduzir a sensibilidade do câmbio a choques.
Há debate técnico sobre o formato da meta: ponto anual, metas contínuas ou média móvel. Economistas ouvidos pelo Valor Econômico sugerem que metas contínuas suavizam a necessidade de “acertar no calendário”, dando ao BC mais flexibilidade para choques temporários sem perder o compromisso com a trajetória. O contraponto é a perda de um marco anual claro para a prestação de contas.
No dia a dia, a meta moldura a leitura de dados: IPCA amplo, núcleos, serviços subjacentes, inflação de bens e expectativas na Focus. Se os núcleos cedem e a atividade esfria, abre-se espaço para cortes. Se serviços seguem aquecidos e expectativas sobem, a autoridade monetária sinaliza cautela. Em suma: a meta não é só um número; é o contrato que organiza a política econômica.