Startups voltadas ao agronegócio apostam em dados, sensores e inteligência artificial para otimizar a produção e reduzir impactos ambientais.
O agronegócio brasileiro, responsável por quase 25% do PIB, tem sido terreno fértil para a inovação. As agritechs — startups voltadas ao setor rural — vêm ganhando espaço ao oferecer soluções baseadas em tecnologia para elevar a produtividade, reduzir custos e tornar o campo mais sustentável. Segundo dados da Embrapa, já são mais de 1.700 agritechs ativas no país, um crescimento de 40% em quatro anos.
Essas empresas atuam em frentes diversas, desde monitoramento climático até rastreabilidade da produção. A Agrosmart, por exemplo, usa sensores e IA para medir a necessidade hídrica das lavouras em tempo real, ajudando produtores a economizar até 60% de água e energia. Já a Solinftec fornece sistemas que otimizam o uso de máquinas agrícolas, reduzindo desperdícios e aumentando o rendimento por hectare.
O impulso para o setor veio não só da digitalização, mas também das exigências de investidores e consumidores por práticas ESG. Grandes grupos como Amaggi, Raízen e BRF passaram a adotar tecnologias para mapear sua cadeia de produção, monitorar emissões e comprovar boas práticas ambientais. Segundo reportagem do Valor Econômico, fundos de private equity voltaram a investir em soluções ligadas ao agronegócio digital, após um período de cautela em 2022 e 2023.
Além do ganho de eficiência, as agritechs também têm papel relevante na inclusão de pequenos produtores. Iniciativas como a da startup Pix Force, que usa imagens de drones e satélites para gerar mapas de produtividade, permitem que agricultores familiares tomem decisões mais informadas sem precisar de equipamentos caros. “A tecnologia não substitui o produtor, mas potencializa sua tomada de decisão”, explicou Pedro Vilela, analista da Embrapa, em entrevista à Reuters.
Outro fator de destaque é o crescimento de fintechs rurais, que oferecem crédito mais rápido e personalizado com base em dados de produção. Isso resolve um gargalo histórico do setor: a dificuldade de acesso a financiamento. Startups como a Traive e a TerraMagna já movimentam centenas de milhões de reais em antecipações de safra e seguros agrícolas.
Para o futuro, o desafio será ampliar o acesso à conectividade no campo e garantir que a transformação digital seja realmente inclusiva. A combinação de tradição com inovação segue como trunfo do agro brasileiro — e as agritechs serão peças-chave nesse processo.