Casos envolvendo Zions Bancorp e Western Alliance levantam dúvidas sobre integridade dos balanços e aumentam o temor de contágio financeiro
O mercado financeiro norte-americano viveu uma quinta-feira (16) de forte turbulência após a divulgação de suspeitas de fraudes contábeis em bancos regionais dos Estados Unidos. O índice de volatilidade VIX — considerado o “termômetro do medo” de Wall Street — saltou mais de 20%, atingindo o maior nível desde maio, segundo dados do Money Times. As perdas do setor bancário somaram mais de US$ 100 bilhões em valor de mercado.
Fraudes sob investigação
O primeiro caso envolve o Zions Bancorp, que reportou uma baixa contábil de US$ 50 milhões para cobrir dois empréstimos da California Bank & Trust. A instituição alegou “possíveis falsas declarações e descumprimentos contratuais”, conforme documentos enviados à SEC (Securities and Exchange Commission), a autoridade reguladora do mercado financeiro americano.
Já o Western Alliance moveu uma ação judicial contra o Cantor Group, acusando o conglomerado de fraude em garantias fiduciárias. Ambos os episódios, segundo o Money Times, estão relacionados a fundos geridos por Andrew Stupin e Gerald Marcil, o que ampliou a percepção de risco no setor.
Reação dos mercados
As ações de bancos regionais como o próprio Zions e o Western Alliance despencaram entre 8% e 12%, arrastando consigo papéis de outras instituições de médio porte. O aumento da volatilidade levou investidores a buscar ativos de proteção, como Treasuries e ouro, enquanto os rendimentos dos títulos de 10 anos caíram levemente.
De acordo com o analista Rafael Passo, da Ajax Asset, “muitos bancos regionais já operavam com spreads de risco comprimidos, e qualquer sinal de fraude ou má gestão contábil é o gatilho para reprecificação imediata”. Para Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, os casos parecem pontuais, mas podem “gerar um efeito psicológico de curto prazo semelhante ao observado após o colapso do Silicon Valley Bank”.
Próximos testes de confiança
Os próximos dias serão decisivos para medir o grau de contaminação. O mercado acompanha de perto os resultados trimestrais de bancos como American Express, Truist, Huntington, Regions, SLB e State Street, que devem trazer sinais sobre a qualidade dos ativos de crédito e a exposição a empréstimos corporativos.
Economistas alertam que, se novos episódios vierem à tona, pode haver reprecificação global de risco bancário — inclusive em títulos de dívida corporativa. O governo americano e a SEC, segundo fontes do Financial Times, monitoram os desdobramentos e podem anunciar novas diretrizes de transparência para bancos regionais.
Com a tensão de curto prazo e os investidores migrando para posições defensivas, Wall Street volta a operar sob o signo da incerteza — e a qualidade do crédito regional volta a ser um dos principais termômetros de risco global.







