Empresa de gestão ambiental enfrenta impasse bilionário com credores e exposição em dólar; ações já caíram mais de 95% no ano
A Ambipar (AMBP3), referência no setor de gestão ambiental e resposta a emergências, deve entrar com pedido de recuperação judicial na próxima segunda-feira (21), segundo apuração do Money Times. A companhia tentou evitar o processo por meio de um acordo extrajudicial, mas não conseguiu consenso com os principais credores, especialmente bancos nacionais e detentores de títulos internacionais.
Endividamento bilionário e crise de liquidez
A situação financeira da Ambipar se deteriorou nos últimos meses. Segundo informações do Money Times, a empresa acumula mais de US$ 1 bilhão (R$ 5 bilhões) em bonds internacionais e cerca de R$ 2,8 bilhões em debêntures no Brasil, com remuneração entre CDI + 2,75% e CDI + 3,5%.
Além disso, o Deutsche Bank teria exigido garantias adicionais em contratos de derivativos, o que disparou cláusulas de cross-default — ou seja, vencimento antecipado de outras dívidas em caso de inadimplência. Estima-se que o risco potencial possa alcançar R$ 10 bilhões, conforme reportagem do Seu Dinheiro.
A deterioração da confiança se refletiu nas ações da companhia: os papéis AMBP3 desabaram cerca de 97% em 2025, sendo negociados a R$ 0,37 no fechamento da última semana, segundo o Money Times.
Bancos e credores expostos
Os principais bancos credores — Itaú Unibanco, Bradesco e Santander — possuem exposição superior a R$ 1,6 bilhão em linhas de capital de giro e empréstimos à Ambipar, de acordo com o Seu Dinheiro. Parte desses contratos tem vencimento ainda em 2025 e pode ser diretamente afetada pela reestruturação judicial.
Investidores de bonds internacionais e debêntures corporativas também se preparam para potenciais perdas ou renegociações, que podem incluir redução do valor da dívida (haircut) ou extensão de prazos.
Tentativas de reestruturação e próximos passos
Para tentar conter a crise, a Ambipar contratou a consultoria FTI Consulting para revisar as demonstrações financeiras e buscar alternativas de renegociação, conforme relatou o Money Times. A empresa também avalia venda de ativos não estratégicos e reestruturação de subsidiárias internacionais, especialmente na Europa e América Latina.
No entanto, analistas avaliam que o cenário é desafiador. A estrutura de alavancagem da companhia, construída durante um ciclo agressivo de aquisições e internacionalização, tornou-se insustentável diante da alta dos juros globais e da queda da demanda por serviços ambientais corporativos.
Impactos no setor e para investidores
A possível recuperação judicial da Ambipar tem potencial de abalroar a credibilidade de empresas ESG listadas na B3, já que a companhia era vista como referência no segmento de sustentabilidade. Além disso, o episódio reforça os riscos de endividamento em moeda estrangeira sem hedge eficiente.
Especialistas apontam que, mesmo com eventual aprovação do plano de recuperação, há risco de diluição dos acionistas, emissão de novos títulos e reestruturação profunda da governança.
Para o mercado de capitais, o caso acende alerta sobre empresas com modelo de crescimento baseado em dívida e aquisições, sobretudo em setores regulados ou de margens apertadas.
A Ambipar deve se pronunciar oficialmente na próxima semana, após protocolar o pedido de recuperação judicial na Justiça do Rio de Janeiro.
