Juros altos e volatilidade no mercado fazem brasileiros adiar planos de longo prazo
Os aportes em planos de previdência privada aberta caíram 15,2% de janeiro a agosto de 2025, segundo dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi) divulgados pelo InfoMoney. O resultado mostra que, mesmo com o avanço da educação financeira, o investidor brasileiro ainda reage com cautela a um ambiente de juros elevados e incerteza econômica.
Investidor segura aportes diante da Selic alta
Com a taxa Selic ainda próxima de 10,75%, muitos investidores preferem aplicar recursos em alternativas mais líquidas e de retorno imediato, como CDBs e Tesouro Direto. Essa mudança de comportamento explica parte da retração nos aportes, já que os planos de previdência, em geral, têm horizonte de longo prazo e menor flexibilidade para resgates antecipados.
Além disso, o custo de vida em alta e a dificuldade em manter uma poupança mensal também contribuíram para reduzir o volume de novos depósitos. Segundo a Fenaprevi, o total aportado chegou a R$ 97,5 bilhões no período, frente a R$ 115 bilhões no mesmo intervalo de 2024.
Juros altos favorecem resgates antecipados
Enquanto os aportes diminuíram, o volume de resgates aumentou 5,8% no acumulado do ano, alcançando R$ 91 bilhões. Essa movimentação mostra que parte dos investidores tem buscado liquidez para enfrentar o custo crescente do crédito e das despesas domésticas.
De acordo com analistas ouvidos pela Reuters, o movimento também indica que produtos de renda fixa tradicional voltaram a competir de forma direta com os planos de previdência, especialmente após o ciclo de alta da Selic iniciado em 2023.
Segmento VGBL domina o mercado
Entre os tipos de produto, os planos VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre) continuam liderando o mercado, representando 88% das contribuições totais. Já o PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre) manteve participação estável, em torno de 12%. A Fenaprevi explica que o perfil tributário e a simplicidade de resgate fazem do VGBL o produto preferido de quem busca previdência complementar sem vínculo direto com a declaração completa do Imposto de Renda.
Mesmo assim, especialistas reforçam que o momento de juros altos é oportunidade para reajustar carteiras, aproveitando preços mais atrativos de fundos de previdência multimercado e de crédito privado.
Estratégia e educação financeira ganham importância
Para manter o crescimento no setor, gestoras e seguradoras têm ampliado esforços em educação financeira e incentivo à previdência desde cedo. Segundo o levantamento, o número de planos contratados por jovens de 18 a 30 anos subiu 7,3% no último ano, mostrando uma mudança gradual na mentalidade de investimento.
Além disso, cresce o interesse por planos sustentáveis (ESG), que buscam conciliar retorno financeiro e impacto social positivo. Essa tendência deve ganhar força com a regulamentação de novos produtos verdes prevista para o início de 2026.
Perspectivas para o último trimestre
Especialistas esperam que o ritmo de aportes melhore caso o Banco Central avance no ciclo de cortes de juros até dezembro. Uma Selic mais baixa pode reaquecer o apetite por investimentos de longo prazo, incluindo previdência.
Ainda assim, o setor deve encerrar 2025 em retração moderada. O desafio será reconquistar o investidor que migrou para produtos de renda fixa e reforçar a percepção de que previdência é mais planejamento do que rentabilidade imediata.
Em síntese, o recuo nos aportes mostra que o brasileiro ainda equilibra prudência e oportunidade em um cenário de juros altos, inflação controlada e busca constante por segurança financeira.