A discussão em torno do Orçamento de 2026 ganhou contornos decisivos nesta semana.
O governo tenta costurar espaço para cumprir promessas em pleno ano eleitoral. Ao mesmo tempo, o arcabouço fiscal impõe travas que podem limitar aumentos de gastos já no próximo ano.
Dependendo da forma como a regra for aplicada, Lula pode precisar rever planos. Isso inclui reajustes no funcionalismo e mudanças no Imposto de Renda.
Antes de tudo, vale lembrar o cenário: 2025 caminha para fechar com déficit primário. Isso aciona gatilhos automáticos da Lei Complementar nº 200, aprovada no fim de 2024.
Essas regras definem o que o governo pode fazer. Acima de tudo, elas determinam o que não pode ser feito quando as contas ficam no vermelho.
Afinal, o que o governo queria mudar no Orçamento de 2026?
Em primeiro lugar, o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO), o governo Lula previu um aumento real superior a 4% nos gastos com pessoal.
Porém, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU) e as consultorias de orçamento da Câmara e do Senado, o teto permitido seria de apenas 0,6%.
A fim de contornar isso, o governo inseriu no texto um pedido ao Congresso. Ele solicitou que essa limitação não fosse aplicada em 2026.
O argumento? A interpretação do artigo 6º-A da Lei do Arcabouço.
Pelo entendimento do Executivo, o déficit de 2025 só será “apurado” em janeiro de 2026. Nesse momento, o Banco Central divulgará o resultado. Logo, as travas só valeriam a partir de 2027.
A estratégia parecia simples — até que vieram os pareceres técnicos.
Por que TCU e consultorias discordam?
O TCU e as consultorias legislativas foram categóricos:
Se 2025 terminar com déficit (algo praticamente certo), as restrições valem já em 2026.
A lógica é objetiva. Quando o governo monta o Orçamento, o resultado final do ano anterior ainda não foi divulgado. Ainda assim, já é possível prever o rombo.
Se fosse preciso esperar a divulgação oficial, a regra jamais teria aplicação prática. Isso anularia a intenção do legislador.
O TCU reforçou que afastar a regra em ano eleitoral para ampliar gastos é uma prática ilegal e danosa para as contas públicas.
A redação do arcabouço permite interpretações diferentes?
Sim. Esse é um dos grandes entraves.
O trecho que fala em “exercício subsequente ao da apuração” abre margem para dúvidas. Isso acontece já que o Banco Central só divulga o resultado primário do ano anterior em janeiro.
Essa lacuna permite que o governo argumente a favor de 2027. Em contrapartida, órgãos de controle defendem aplicação imediata.
Alexandre Andrade, da Instituição Fiscal Independente (IFI), afirma que embora exista ambiguidade, o mais coerente é aplicar as limitações já em 2026. Ou seja, exatamente como defende o TCU.
O que a regra realmente impede?
Se confirmada a interpretação de TCU e consultorias, 2026 terá duas travas importantes:
- Não pode haver aumento real acima de 0,6% nos gastos com pessoal e encargos;
- Não pode haver ampliação ou criação de benefícios tributários.
Na prática, vários planos do governo ficam ameaçados. Por exemplo:
- a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, recentemente aprovada no Senado;
- reajustes prometidos ao funcionalismo;
- iniciativas como tarifa zero no transporte público, novos incentivos do programa Redata, além de aumentos no Bolsa Família.
Tudo isso terá de caber em um orçamento já pressionado. O déficit previsto é de R$ 31 bilhões, segundo cálculos da IFI.
Para completar, a dívida pública já alcança 78,1% do PIB, com tendência de alta.
E o que fez o relator do Orçamento?
O relator da LDO, deputado Gervásio Maia (PSB-PB), retirou o trecho que tentava afastar as restrições para 2026.
Além disso, caso isso seja mantido na votação, o governo precisará rever a proposta e ajustar gastos. Isso explica parte do atraso na aprovação do texto.
Como a LDO deve ser votada só no início de novembro, o impasse segue aberto.
Conclusão: o país já vive o primeiro grande teste do arcabouço
A disputa de interpretações revela o alcance real do arcabouço fiscal.
Ele pode limitar promessas, travar projetos e obrigar o governo a fazer escolhas difíceis. Isso acontece especialmente em um ano eleitoral.
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Perguntas Frequentes (FAQs)
O aumento de gastos com pessoal pode passar de 0,6% em 2026?
Segundo o TCU e consultorias do Congresso, não. As travas fiscais já valeriam em 2026.
O que está em risco se a regra valer já em 2026?
Reajustes de servidores, isenção do IR para até R$ 5 mil, ampliação de programas sociais e incentivos do setor produtivo.
A LDO pode revogar ou adiar o arcabouço?
Não. A LDO é uma lei ordinária. Ela não pode alterar uma lei complementar.
O déficit de 2025 influencia diretamente o Orçamento de 2026?
Sim. É o déficit que aciona os gatilhos de contenção previstos no arcabouço.
E se o governo ignorar a regra?
Além de insegurança jurídica, haveria risco de responsabilização. Também haveria impactos negativos na credibilidade fiscal.









