Modelo de tesourarias de ativos digitais (DATs) enfrenta perda de valor e questionamentos sobre sustentabilidade financeira
O mercado das chamadas empresas de tesouraria de ativos digitais (DATs) — companhias que acumulam grandes reservas de criptomoedas e oferecem exposição indireta a esses ativos — vive um momento de correção. Segundo o especialista Tom Lee, presidente da BitMine, a bolha dessas empresas “já estourou”, indicando que o modelo de negócios baseado apenas na valorização de criptoativos chegou ao limite. As declarações foram dadas ao InfoMoney.
Modelo em xeque
As DATs funcionam de forma semelhante a fundos de investimento, mas com estrutura corporativa. Elas compram criptomoedas como Bitcoin e Ethereum e transformam essas reservas em ativos negociáveis na bolsa, oferecendo aos investidores uma forma indireta de se expor ao mercado digital. Empresas como a MicroStrategy e a Galaxy Digital se tornaram símbolos desse modelo ao longo da última década.
O problema, segundo Lee, é que muitas dessas companhias já negociam abaixo do seu valor patrimonial líquido (NAV) — ou seja, o mercado avalia as ações por um preço menor do que o valor real dos criptoativos que possuem. “Se isso não é o estouro de uma bolha, o que seria?”, provocou o executivo.
Exposição extrema e pouca diversificação
De acordo com a análise do InfoMoney, o principal risco do setor está na alta concentração em ativos voláteis. Quando o preço das criptomoedas cai, as empresas perdem valor rapidamente, sem ter receitas operacionais que possam amortecer as perdas.
A ascensão de novas DATs nos últimos anos também aumentou a competição interna e o risco de insolvência entre companhias menores, muitas delas criadas em ciclos de alta do Bitcoin e sem estrutura para enfrentar períodos de baixa.
Impactos para investidores
Para quem tem ações dessas empresas, o momento é de cautela. As DATs — que em teoria permitiam acesso seguro e regulado ao universo das criptomoedas — podem agora representar exposição de risco semelhante à do mercado especulativo, especialmente quando operam sem transparência contábil.
O estouro dessa bolha também pode gerar efeitos em cadeia no mercado cripto: a venda de reservas por parte dessas companhias tende a pressionar preços, reduzir liquidez e afetar projetos dependentes da valorização de tokens e moedas digitais.
O que acompanhar daqui pra frente
Analistas destacam alguns pontos de atenção:
- A relação entre preço de mercado e valor patrimonial líquido (NAV) das DATs;
- A evolução de regras regulatórias para empresas que operam com ativos digitais;
- O grau de diversificação de receita — quanto mais dependente da valorização do Bitcoin, maior o risco;
- As condições macroeconômicas globais, como juros e liquidez, que afetam o apetite por ativos de risco.
Com o setor sob escrutínio, o desempenho das tesourarias de criptoativos deve se tornar um termômetro da maturidade do mercado digital — e um teste para saber se as empresas conseguem sobreviver a um cenário de valorização mais contida.









