Banco usa estratégia semelhante à do caso Americanas para responsabilizar gestores e recuperar prejuízos
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O Bradesco entrou com ação civil contra executivos da Ambipar, alegando irregularidades na gestão e pedindo responsabilização pessoal por dívidas da empresa. O banco cobra R$ 390 milhões e afirma que houve “fraude ostensiva” na condução das finanças corporativas.
De acordo com a reportagem da Bloomberg Línea, o processo segue a mesma linha jurídica utilizada no caso Americanas, em que o banco buscou atingir diretamente o patrimônio de gestores e acionistas. Assim, o Bradesco tenta impedir a venda de bens dos diretores e garantir que parte do valor devido seja recuperada por meio de execução pessoal.
Estratégia jurídica e contexto
O banco alega que diretores da Ambipar, incluindo o ex-executivo Thiago da Costa Silva, manipularam dados financeiros para criar liquidez artificial. Essa manobra, segundo a ação, teria mascarado a real situação de caixa da companhia. Além disso, o Bradesco sustenta que a administração agiu com má-fé ao omitir passivos e comprometer o pagamento a credores.
Essa postura replica o precedente aberto no processo da Americanas, em que instituições financeiras pressionaram o Judiciário a autorizar o bloqueio de bens de controladores. O objetivo é aumentar a segurança jurídica dos credores e evitar que prejuízos sejam arcados apenas pela empresa, não pelos administradores responsáveis.
Efeitos para a Ambipar e o mercado
A Ambipar enfrenta um cenário de crise. Em outubro, a companhia entrou com pedido de recuperação judicial no Brasil e nos Estados Unidos, acumulando dívidas de mais de R$ 3 bilhões. O novo processo do Bradesco agrava a situação e pode acelerar investigações sobre a governança do grupo.
Além disso, o caso preocupa o mercado de crédito. Caso o banco obtenha êxito, outras instituições financeiras poderão adotar a mesma estratégia para acionar gestores de empresas em crise. Esse cenário tende a elevar o custo de financiamento corporativo, já que executivos passarão a responder pessoalmente por decisões de gestão.
Impactos na governança e no crédito corporativo
Analistas veem a ação como um divisor de águas para a governança corporativa brasileira. Por um lado, o movimento aumenta a pressão por transparência e controles internos mais rígidos. Por outro, pode provocar maior cautela de executivos ao assumir cargos de direção em companhias com alto nível de alavancagem.
De acordo com a Bloomberg Línea, o setor financeiro acompanha de perto a tramitação judicial, já que o resultado pode estabelecer novo precedente no tratamento de fraudes empresariais. Bancos e investidores avaliam que, se a Justiça confirmar a tese do Bradesco, o país avançará na responsabilização individual de gestores — mas também poderá tornar o ambiente de crédito mais restritivo.
O que esperar nas próximas etapas
Nos próximos meses, a Justiça paulista deve analisar os pedidos de bloqueio de bens e as defesas dos executivos citados. A Ambipar, por sua vez, tenta renegociar parte das dívidas dentro do plano de recuperação judicial. Caso o processo avance, o julgamento poderá definir os limites da responsabilidade pessoal de administradores em companhias de capital aberto.
Enquanto isso, o mercado observa. O desfecho tende a influenciar o comportamento de credores, a formulação de contratos bancários e a precificação do risco corporativo na B3.









