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O Brasil está diante de um alerta cada vez mais urgente: sem uma redução acelerada das emissões da agropecuária, o país não conseguirá cumprir suas metas climáticas. A avaliação é de pesquisadores reunidos em um debate divulgado pelo Amazônia Vox, que reforçam a necessidade de ações rápidas em um dos setores mais importantes — e ao mesmo tempo mais sensíveis — da economia nacional.
Hoje, 29% de todas as emissões brasileiras vêm da agropecuária, enquanto o desmatamento responde por outros 42%. Ou seja: dois pilares ligados diretamente ao uso da terra determinam se o país vai ou não entregar o que prometeu ao mundo.
Por que a agropecuária virou peça-chave para frear as emissões?
Segundo especialistas, o agronegócio e o setor de uso da terra deixaram de ser apenas parte do problema para se tornarem parte inevitável da solução. O diretor do IPAM, André Guimarães, lembra que o desmatamento — legal ou ilegal — continua sendo o grande calcanhar de Aquiles climático do país.
Ele explica que o desmatamento ilegal precisa de punição e regularização, enquanto o desmatamento legal deveria ser substituído por incentivos para manter a floresta de pé. Afinal, para o clima, não importa se o corte é permitido ou não: o impacto é o mesmo.
Guimarães também ressalta que restaurar florestas e recompor áreas degradadas não é apenas uma ação ambiental — é uma medida econômica. A agricultura brasileira depende diretamente das chuvas geradas pelas florestas, sem as quais a produtividade despenca. Estudos citados mostram que cada grau a mais na temperatura reduz a produtividade da soja em 6% e a do milho em 8%.
O Brasil ainda consegue cumprir a meta climática de 2030?
De acordo com David Tsai, coordenador do SEEG, sim — mas isso exige uma virada imediata. O teto de emissões permitido para 2030 é de 1,2 bilhão de toneladas, número que só será alcançado com três movimentos simultâneos:
- Zerar o desmatamento até 2030
- Reduzir emissões da agropecuária
- Cortar emissões da energia
Para especialistas, o maior gargalo do Brasil não é tecnológico — é de decisão política e velocidade de implementação.
Como o setor privado enxerga essa pressão climática?
Empresas como a Tereos reconhecem que o agronegócio precisa “virar a chave” e deixar de ser visto como vilão. O diretor de Sustentabilidade, Felipe Mendes, lembra que a cana-de-açúcar já responde por 17% da matriz energética brasileira, graças ao etanol e à biomassa.
Para ele, o setor deve assumir o protagonismo climático ao mesmo tempo em que combate o desmatamento ilegal e melhora a gestão de pastagens e cultivos.
“Proteger a floresta é bom para o agro”, resume Mendes, reforçando que preservar mata nativa é também uma forma de proteger lavouras e pastagens dos impactos climáticos.
Qual é o plano do governo para transformar o modelo produtivo?
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, tem apostado em um fundo de recuperação de pastagens e áreas degradadas, que considera essencial para o futuro da agropecuária.
Ele afirma que o Brasil não precisa expandir produção sobre florestas ou Cerrado — basta recuperar áreas já degradadas, devolvendo produtividade ao solo. Segundo o ministério, há R$ 50 bilhões disponíveis para financiar essas ações.
Para Fávaro, essa estratégia pode até dobrar a produção brasileira, preservando o meio ambiente e fortalecendo a segurança climática da agricultura.
E como ficam os povos tradicionais diante da crise climática?
Walkimario Lemos, da Embrapa Amazônia Oriental, destaca que populações indígenas, quilombolas, ribeirinhas e agricultores familiares são as mais vulneráveis às mudanças climáticas — e as que menos contribuem para o problema.
Por isso, ele defende que políticas públicas considerem tecnologias adaptadas às realidades locais, garantindo:
- Inclusão produtiva
- Renda
- Segurança alimentar
- Resiliência climática
A meta é que a transição verde alcance todos, não apenas grandes produtores.
Conclusão: sem mudanças rápidas no campo, o Brasil perde força no clima e na economia
O país tem potencial para ser líder climático mundial, mas isso só acontecerá se a agropecuária acelerar a transição para práticas de baixo carbono. Proteger floresta, recuperar terras e investir em inovação já não são escolhas — são condições básicas para manter a produção e cumprir acordos internacionais.
Para continuar acompanhando análises que impactam o agro, a economia e o futuro climático do país, continue navegando pelo Brasilvest.
Perguntas Frequentes (FAQs)
Por que a agropecuária é tão importante nas emissões brasileiras?
Porque o setor responde por quase um terço das emissões do país, e sua produção depende diretamente das chuvas geradas pelas florestas.
O Brasil ainda pode cumprir a meta climática de 2030?
Sim, mas só se zerar o desmatamento e reduzir emissões da agropecuária e da energia rapidamente.
Restaurar florestas realmente ajuda o agronegócio?
Sim. Florestas regulam chuvas, temperatura e produtividade agrícola.
O que o governo está fazendo para reduzir emissões do setor?
Lançou um fundo para recuperar áreas degradadas e ampliou políticas de transição energética com biocombustíveis.
A tecnologia atual é suficiente para reduzir as emissões do agro?
Sim. O desafio é implementação rápida, não falta de tecnologia.
Quem mais sofre com os impactos climáticos no Brasil?
Povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas e agricultores familiares, que são os menos responsáveis pelas emissões.









