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O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, passou de “nome de risco” para figura de confiança da Faria Lima. Antes visto com cautela pelo mercado por sua ligação com o PT e por posições consideradas heterodoxas, ele hoje é elogiado pela condução firme da política monetária e pela resposta técnica em casos sensíveis, como a liquidação do Banco Master.
Na segunda-feira (24), no tradicional almoço da Febraban, Galípolo foi celebrado publicamente. Isaac Sidney, presidente da entidade, resumiu o espírito do setor financeiro:
“Você elevou a régua da dignidade institucional do Banco Central.”
A frase simboliza a reviravolta na imagem do economista, que assumiu o BC pressionado por juros altos, desconfiança política e dúvidas sobre sua independência.
De “suspeito de heterodoxia” a guardião da credibilidade
Quando chegou ao BC em 2023, como diretor de Política Monetária, Galípolo carregava:
- proximidade com o PT
- participação ativa na campanha de 2022
- ligação com economistas heterodoxos, como Belluzzo
- passagem pela Fazenda como secretário-executivo
Era, portanto, um perfil que despertava receio no mercado financeiro. Mas, ao substituir Roberto Campos Neto no início de 2025, sua postura surpreendeu.
Economistas de grandes gestoras e consultorias descrevem Galípolo como:
- técnico e pragmático
- transparente na comunicação
- aberto ao diálogo
- resistente a pressões políticas
- focado em unanimidade e estabilidade
A virada de percepção foi acelerada a partir da condução da política monetária, especialmente após os primeiros meses como presidente do Copom.
Política monetária dura — e mais dura do que o mercado esperava
Em dezembro de 2024, ainda sob Campos Neto, o Copom sinalizou altas sucessivas que levariam a Selic a 12,25%.
Mas já sob Galípolo:
- o BC elevou a Selic para 15%, maior patamar em 20 anos
- reforçou a postura firme no combate à inflação
- reconstruiu unidade interna após a famosa reunião dividida de maio de 2024
Essa guinada foi decisiva para reaproximá-lo da Faria Lima.
Solange Srour, do UBS, resume:
“Ele tinha o desafio de conquistar credibilidade. Conquistou.”
Alessandra Ribeiro, da Tendências, afirma:
“Era óbvio que ele teria incentivo para ser responsável — e ele entregou.”
Caso Banco Master: o teste final
O episódio que consolidou a confiança do mercado foi a liquidação do Banco Master.
Mesmo sob:
- pressão política intensa,
- risco de retaliação no Congresso,
- articulações do Centrão para mudar a lei do BC,
Galípolo manteve postura técnica:
- negou a compra do Master pelo BRB,
- conduziu o processo com rigor regulatório,
- reforçou a autonomia operacional do Banco Central.
Foi um recado claro ao governo e ao mercado: não há atalho, nem intervenção política no BC sob sua gestão.
O governo bate — o mercado aplaude
Dentro do governo Lula, as críticas foram intensas:
- Haddad disse estar “louco” para ver o BC reconhecer seu esforço fiscal.
- Gleisi afirmou que Galípolo “deixou a desejar”.
Mas as tensões não mudaram a postura do BC.
O Copom continua:
- alertando sobre desarmonia entre política monetária e fiscal,
- citando a alta dívida pública,
- e reforçando que esse cenário mantém juros altos por mais tempo.
Sergio Vale, da MB Associados, aponta:
“A política fiscal ajudou a pressionar a inflação. O BC está sendo cuidadoso.”
O desafio de 2026: juros altos em ano eleitoral
O BC projeta:
- início de cortes apenas no começo de 2026
- Selic ainda alta: deve terminar o ano perto de 12%
Isso significa:
- desaceleração econômica justamente no ano em que Lula buscará a reeleição
- pressão política crescente sobre o BC
- risco de desgaste institucional
Apesar disso, José Júlio Senna (FGV/Ibre) acredita que Galípolo não vai recuar:
“O Banco Central não vai piscar. Qualquer erro destruiria anos de trabalho.”
Credibilidade reconquistada — e o preço disso
Galípolo venceu a maior batalha de qualquer presidente do BC indicado por um governo:
ganhou a confiança de quem mais desconfiava dele.
Hoje, para a Faria Lima, ele é:
- previsível,
- técnico,
- autônomo,
- conservador (no bom sentido),
- capaz de resistir ao calor político.
A dúvida não é mais se Galípolo é confiável — e sim até onde ele conseguirá manter essa rotatória estável em 2026.









