Decisões conjuntas entre países podem evitar colapsos financeiros — e o Brasil também entra nesse jogo.
Quando uma crise econômica global se instala — como em 2008 ou na pandemia de 2020 —, uma engrenagem internacional começa a se mover nos bastidores: a cooperação entre bancos centrais. A imagem clássica de instituições financeiras agindo isoladamente já não reflete a realidade. Em um mundo globalizado, decisões monetárias interligadas são fundamentais para evitar o colapso de mercados, controlar a inflação e garantir liquidez.
Um exemplo marcante dessa articulação ocorreu em 2008, quando o Federal Reserve (EUA), o Banco Central Europeu, o Banco do Japão e outras autoridades monetárias anunciaram cortes coordenados de juros. Em 2020, durante o auge da crise do coronavírus, essas instituições voltaram a agir em conjunto para fornecer liquidez em dólares ao sistema global, incluindo países emergentes como o Brasil, via linhas de swap.
Segundo reportagem da Bloomberg, esse tipo de cooperação é possível graças à atuação do Bank for International Settlements (BIS), uma espécie de “banco dos bancos centrais”, que facilita o diálogo técnico e coordena ações emergenciais. No Brasil, o Banco Central já participou de rodadas conjuntas para estabilizar o câmbio e garantir crédito interbancário durante momentos de estresse.
Mas nem tudo são flores: quando há desalinhamento, como ocorreu em 2022 com a disparada de juros nos EUA, países em desenvolvimento enfrentam fuga de capitais, alta do dólar e inflação importada. “A coordenação é essencial, mas o poder ainda é assimétrico”, explicou o economista Paulo Nogueira Batista Jr. em entrevista ao Valor Econômico.
Com as guerras comerciais, tensões geopolíticas e riscos climáticos cada vez mais presentes, essa articulação tende a se tornar mais frequente — e mais necessária. A política monetária global virou uma peça-chave no tabuleiro geopolítico do século XXI.