A política brasileira entrou em um território curioso — e revelador. Uma nova pesquisa mostra que os rótulos de direita e esquerda já não explicam sozinhos o comportamento do eleitor. O dado mais surpreendente: 34% dos petistas se dizem de direita, enquanto 14% dos bolsonaristas afirmam estar à esquerda. O resultado escancara uma crise de identidade política no país.
O que diz a pesquisa do Datafolha?
O levantamento do Datafolha revela um cenário paradoxal. Ao cruzar identificação ideológica com alinhamento político, o instituto encontrou um eleitorado menos coerente do que os rótulos sugerem.
Hoje, 40% dos brasileiros se dizem petistas e 34% se dizem bolsonaristas. Já na escala ideológica, 47% se colocam à direita ou centro-direita, enquanto 28% se identificam como esquerda ou centro-esquerda. Quando os dados se cruzam, surge a contradição.
Por que tantos petistas se dizem de direita?
Para cientistas políticos, a explicação passa longe de um simples erro de pesquisa. O fenômeno está ligado à confusão conceitual e, principalmente, à força das lideranças políticas.
O carisma e a trajetória de Luiz Inácio Lula da Silva criaram um tipo de eleitor que se identifica com o PT, mas mantém valores conservadores, sobretudo em temas como costumes, religião e segurança pública.
Há, por exemplo, um petismo tradicional, ligado ao catolicismo e a regiões do Sul, que é socialmente conservador, mas fiel ao partido.
E por que há bolsonaristas à esquerda?
O mesmo acontece no campo oposto. Embora Jair Bolsonaro seja associado à direita, parte de seus apoiadores defende Estado forte, políticas sociais e proteção ao trabalhador.
Há bolsonaristas que apoiam programas sociais, defendem intervenção estatal e rejeitam agendas econômicas liberais. Isso explica por que 14% deles se colocam à esquerda ou centro-esquerda.
O problema é ideologia ou identidade?
Segundo especialistas, o eleitor brasileiro passou a se organizar mais por identidade política do que por ideologia clássica. Ser “petista” ou “bolsonarista” virou, para muitos, um marcador de lado na disputa, não um conjunto coerente de ideias.
Para professores de ciência política, o rótulo funciona mais como oposição ao outro campo do que como adesão a um projeto ideológico estruturado.
Polarização piorou essa confusão?
Sim. A polarização empurrou o debate para escolhas binárias. O eleitor até entende o que é “direita” e “esquerda” em linhas gerais, mas usa esses conceitos de forma flexível, adaptando-os à sua experiência pessoal e aos líderes que admira.
Além disso, a forma como a pergunta foi feita na pesquisa também influencia. Muitos entrevistados não têm clareza conceitual sobre o que exatamente define cada campo ideológico.
O que isso revela sobre a política brasileira?
Revela que o Brasil vive uma fase em que:
- Lideranças importam mais que ideologias
- Valores pessoais pesam mais que programas partidários
- A política virou disputa identitária
- Direita e esquerda perderam nitidez
Isso ajuda a explicar por que debates públicos parecem confusos, contraditórios e emocionalmente carregados.
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Perguntas Frequentes (FAQs)
Como petistas podem ser de direita?
Porque muitos apoiam o PT por identidade ou liderança, mas mantêm valores conservadores.
Bolsonaristas podem ser de esquerda?
Sim. Alguns defendem Estado forte, programas sociais e políticas trabalhistas.
Direita e esquerda perderam o sentido?
Não totalmente, mas ficaram menos claras para o eleitor médio.
A polarização contribui para essa confusão?
Sim. Ela empurra o eleitor para lados opostos, sem aprofundar conceitos.
Isso afeta eleições futuras?
Afeta sim. Campanhas tendem a focar mais em identidade e emoção do que em ideologia.








