Instituição Fiscal Independente alerta que trajetória de endividamento é insustentável sem ajuste fiscal
A dívida pública brasileira deve continuar crescendo e alcançar 82,4% do PIB em 2026, segundo projeção divulgada pela Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado. O relatório mais recente da entidade mostra que, mesmo com o novo arcabouço fiscal, o país segue sem força para estabilizar o endividamento. Em 2025, a estimativa é de 77,6% do PIB. As informações foram publicadas pelo InfoMoney.
Crescimento da dívida e cenário fiscal desafiador
O levantamento da IFI aponta que a combinação de déficit primário recorrente, juros reais elevados — em torno de 5,1% ao ano — e crescimento econômico modesto deve manter o endividamento em trajetória ascendente até 2026. Para estabilizar a relação dívida/PIB, seria necessário um superávit primário de 2,1% do PIB, patamar distante do observado nos últimos anos.
A entidade destaca que a não aprovação da MP 1.303, que previa aumento de arrecadação com mudanças tributárias, ampliou o desafio do governo. Segundo a IFI, a medida representaria uma compensação de cerca de R$ 20 bilhões em receitas, agora perdidas, o que agrava o esforço fiscal necessário para cumprir metas.
Alerta da IFI e riscos para o médio prazo
O diretor-executivo da IFI, Marcus Pestana, afirmou que a situação fiscal exige medidas imediatas. “Há graves restrições e consequências importantes que mais cedo ou mais tarde se apresentarão, se a rota não for alterada”, disse. Ele ressaltou que o país não pode adiar indefinidamente a adoção de reformas estruturais que corrijam o desequilíbrio das contas públicas.
O relatório da instituição também aponta que o resultado primário zero, meta anunciada pelo governo para 2025, é insuficiente para conter o avanço da dívida. Mesmo com o cumprimento dessa meta, os juros altos e as despesas obrigatórias crescentes tendem a empurrar o endividamento para cima.
Reação dos mercados e necessidade de credibilidade fiscal
A perspectiva de aumento da dívida pública preocupa investidores e pressiona as taxas de juros de longo prazo. Para analistas, a manutenção da confiança no Tesouro Nacional depende da capacidade do governo de conter gastos e evitar novas frustrações de receita.
A IFI defende que o foco deve estar na revisão de subsídios, na redução de renúncias fiscais e na modernização tributária, medidas consideradas essenciais para melhorar o equilíbrio das contas. A instituição reforça que “o adiamento de decisões fiscais só posterga problemas que, mais cedo ou mais tarde, recaem sobre a sociedade”.
Dívida em alta e credibilidade em jogo
Se confirmada a projeção de 82,4% do PIB em 2026, o Brasil voltará a ter uma das maiores relações dívida/PIB entre economias emergentes. O cenário reforça a urgência de uma política fiscal clara e previsível, capaz de restabelecer a confiança dos agentes econômicos.