Estados Unidos anunciam pacote financeiro para estabilizar a economia argentina antes das eleições legislativas
Os Estados Unidos confirmaram nesta quinta-feira (9) um amplo pacote de apoio à Argentina. O Tesouro americano anunciou a compra direta de pesos argentinos e um acordo de swap cambial de US$ 20 bilhões com o Banco Central de Buenos Aires, segundo a Reuters. A medida chega em um momento de forte tensão econômica, com o governo de Javier Milei enfrentando desafios fiscais e políticos. O apoio busca reforçar a credibilidade do país e dar fôlego ao projeto liberal que o presidente tenta consolidar.
Intervenção inédita nos mercados cambiais
De acordo com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, a operação envolveu a compra direta de pesos e o acordo de swap com o Banco Central argentino, em uma iniciativa considerada inédita pelo mercado. Esse tipo de ação utiliza o fundo cambial americano — o Exchange Stabilization Fund — como instrumento para dar liquidez a moedas estrangeiras em crise, conforme destacou a Reuters. Após o anúncio, o peso argentino se valorizou cerca de 0,8%, e títulos e ações do país registraram alta, sinalizando alívio imediato. Especialistas avaliam que a medida reforça a confiança do mercado e reduz temporariamente a pressão sobre as reservas internacionais da Argentina.
Motivações por trás do apoio: política e riscos
Embora o pacote seja apresentado como uma medida técnica, há um componente político evidente. Milei é visto como aliado ideológico de Donald Trump, e suas reformas liberais dialogam com o discurso econômico da direita americana, segundo análise do Politico. O apoio chega a poucas semanas das eleições legislativas argentinas, marcadas para 26 de outubro, nas quais uma vitória da base governista ampliaria o poder do presidente no Congresso. Mesmo assim, o gesto de Washington provocou controvérsia. Parlamentares democratas e republicanos alertam que a operação pode ser interpretada como um resgate financiado por contribuintes americanos, de acordo com a AP News. Além disso, associações agrícolas dos EUA temem que a medida favoreça exportadores argentinos de soja e milho, ampliando sua competitividade nos mercados asiáticos.
Reação do FMI e de credores internacionais
O pacote dos EUA não substitui, mas complementa os esforços da Argentina junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e a outras instituições multilaterais. A diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, afirmou esperar decisões “em breve” sobre um programa de assistência mais amplo ao país, conforme publicou a Reuters. Durante as negociações em Washington, o ministro da Economia argentino, Luis Caputo, participou de reuniões com autoridades americanas para ajustar os termos do swap e discutir um plano de sustentação fiscal. A análise do Financial Times aponta, contudo, que o arranjo carrega riscos de perdas cambiais e exige monitoramento rigoroso da execução.
Desafios à frente e credibilidade de Milei
O efeito positivo imediato nos mercados é inegável, mas sua duração dependerá da capacidade de Milei de entregar resultados concretos, como controle da inflação, redução do déficit e estímulo a investimentos produtivos. Caso haja retrocessos nas reformas ou instabilidade política, o apoio dos EUA pode sofrer desgaste e resistência internacional. A continuidade do swap também depende da confiança na condução macroeconômica argentina e da disposição americana de mantê-lo sem custos fiscais elevados.