A farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk confirmou que dois estudos de fase 3 com a versão oral do seu medicamento baseado em semaglutida não conseguiram retardar a progressão da doença de Alzheimer em pacientes com estágio inicial ou leve da doença.
Como consequência, a empresa decidiu interromper a extensão de um ano planejada para os ensaios e suas ações caíram mais de 12% em Copenhague, atingindo níveis mínimos desde julho de 2021.
Por que esse resultado é tão relevante?
Desde seu sucesso no tratamento do diabetes tipo 2 e obesidade, o princípio ativo semaglutida (comercializado em formas injetáveis como Ozempic e Wegovy) vinha sendo visto como promissor para outras doenças.
Em particular, havia uma expectativa de avanço no tratamento da Alzheimer — uma doença marcada por declínio cognitivo progressivo e com poucas terapias eficazes.
Portanto, o fracasso representa:
- uma oportunidade perdida para Novo Nordisk diversificar e ampliar seu mercado além de diabetes/obesidade;
- um sinal de alerta para o setor farmacêutico sobre os riscos de estender medicamentos “sucesso em um campo” para outro sem garantia de eficácia;
- impacto direto para investidores, já que o valor de mercado da empresa vinha sofrendo pressão.
O que os estudos mostraram (e o que não mostraram)
- Os ensaios — identificados como Evoke e Evoke+ — envolveram cerca de 3 800 pacientes, com idades entre 55 e 85 anos, com Alzheimer leve ou comprometimento cognitivo leve.
- A versão oral da semaglutida melhorou alguns biomarcadores relacionados à Alzheimer, mas não traduziu efeitos clínicos significativos sobre memória, capacidade funcional ou taxa de declínio cognitivo.
- A empresa reconheceu que tratava a iniciativa como uma “aposta de alto risco”.
- Como resultado, a extensão de mais um ano foi cancelada.
Impactos no mercado e para a empresa
A queda nas ações da Novo Nordisk reflete o desapontamento dos investidores. Enquanto a empresa buscava um novo “driver” de crescimento, essa opção se mostrou inviável por agora.
Além disso, o cenário competitivo para tratamentos de obesidade/diabetes está mais acirrado — com a Eli Lilly assumindo a dianteira em algumas frentes.
Para pacientes e médicos, a notícia implica que, embora o medicamento continue sendo eficaz em suas indicações já aprovadas, não é uma solução para Alzheimer — pelo menos conforme os dados até agora.
E agora? O que cabe observar daqui para frente
- A Novo Nordisk divulgará o conjunto completo de dados no evento CTAD 2025 (Clinical Trials in Alzheimer’s Disease) em dezembro, e em março de 2026 na conferência AD/PD.
- Serviços de saúde, comunidade científica e investidores vão avaliar se os biomarcadores positivos observados poderiam abrir caminho para pesquisas futuras — possivelmente em combinação com outras terapias.
- De modo geral, a falha reforça o alerta de que o Alzheimer é um dos desafios mais difíceis da farmacologia moderna — com muitas tentativas, poucas vitórias.
- Para os brasileiros, apesar da relevância global da notícia, não há mudanças imediatas nas indicações aprovadas no país do medicamento ou em seu uso para Alzheimer.
Conclusão
Este episódio mostra que, mesmo para medicamentos de alto desempenho em outras áreas, expandir para doenças complexas como Alzheimer envolve grandes riscos. A Novo Nordisk fez a aposta, mas o resultado não foi o esperado.
Como leitor do Brasilvest, vale acompanhar como a empresa vai reagir — se volta o foco para suas especialidades ou redefine sua estratégia de P&D. Continue acompanhando nosso portal para mais notícias sobre saúde, farmacêutica e mercado.
Perguntas Frequentes (FAQ)
A versão oral da semaglutida funciona contra o Alzheimer?
Não. Os estudos de fase 3 mostraram que a versão oral da semaglutida não conseguiu retardar a progressão do Alzheimer em pacientes com estágio leve da doença. Apesar de alguns biomarcadores terem melhorado, não houve benefício clínico relevante.
Por que a Novo Nordisk interrompeu a extensão dos estudos?
A empresa cancelou a extensão de um ano dos ensaios porque os resultados principais não atingiram o objetivo de melhorar cognição ou estabilizar o avanço da doença. Assim, seguir com o estudo não faria sentido científico ou financeiro.
As ações da Novo Nordisk caíram por causa do resultado?
Sim. O mercado reagiu negativamente e as ações caíram mais de 12%, já que havia grande expectativa sobre a possibilidade de a empresa expandir seu portfólio para tratamentos de Alzheimer.
Esse resultado muda o uso do Ozempic ou Wegovy?
Não. Os medicamentos continuam aprovados para diabetes tipo 2 e tratamento da obesidade. A falha ocorreu apenas nos testes para Alzheimer, que ainda não é uma indicação autorizada.
Os biomarcadores positivos indicam alguma esperança futura?
Possivelmente. Embora não tenham demonstrado eficácia clínica, alguns biomarcadores tiveram resposta positiva. Isso pode abrir caminho para novas combinações terapêuticas ou pesquis as mais específicas no futuro.









