As ações da Hapvida (HAPV3) viveram um dos momentos mais tensos desde sua estreia na Bolsa. Na quinta-feira, 13 de novembro, os papéis despencaram 42,21%, marcando a maior queda desde o IPO em 2018. Como consequência, a companhia perdeu quase R$ 7 bilhões em valor de mercado em apenas um pregão. Não por acaso, o mercado inteiro passou a questionar o que realmente está acontecendo e se o ativo ainda oferece algum potencial — ou se virou uma armadilha de valor.
A reação negativa começou logo após o balanço do terceiro trimestre de 2025. O Ebitda ajustado caiu 20%, enquanto a sinistralidade médica veio muito acima do previsto, acompanhada por aumento de provisões e outros pontos que frustraram os investidores. O sentimento geral foi de alerta, e isso levou a revisões praticamente imediatas das principais casas de análise.
Por que o mercado reagiu tão mal ao balanço do 3T25?
O estopim foi o conjunto de pressões reveladas no trimestre. Ainda antes da abertura do pregão, o JPMorgan cortou a recomendação da Hapvida de compra para neutra, revisando o preço-alvo de R$ 52 para R$ 39. O banco avaliou que muitas das dificuldades tendem a persistir durante boa parte de 2026. Isso porque, embora a empresa esteja realizando investimentos estruturais — como expansão da capacidade, redução do volume de reclamações e melhoria da percepção de qualidade —, os benefícios ainda não aparecem.
Além disso, a companhia segue lidando com alta taxa de cancelamentos, dificuldade para adicionar novas vidas e limites para reajustes. Para piorar, o ambiente competitivo é considerado desfavorável, já que a Amil mantém uma postura comercial agressiva em São Paulo, dificultando a recuperação operacional da Hapvida e reduzindo a previsibilidade de curto e médio prazo.
As projeções dos bancos ficaram muito abaixo do esperado?
Sim. O JPMorgan reduziu suas estimativas e agora projeta um lucro líquido ajustado de R$ 1 bilhão em 2026, bem abaixo dos R$ 1,5 bilhão esperados pelo consenso. Para o banco, a pressão deve continuar, e a trajetória de recuperação tende a ser mais lenta do que o mercado imaginava.
O BB Investimentos também revisou suas expectativas. Mesmo enxergando potencial de valorização até o preço-alvo de R$ 50 em 2026, o banco cortou a recomendação para neutra. Para eles, ainda falta visibilidade para crescimento no curto prazo, especialmente porque a ampliação da base de beneficiários e os reajustes permanecem limitados. Ao mesmo tempo, a expansão e qualificação da rede própria — ponto essencial para reforçar competitividade — devem continuar pressionando os custos.
Mesmo com queda forte, alguma casa ainda recomenda compra?
Sim. O BTG Pactual manteve recomendação de compra, mas reduziu o preço-alvo de R$ 67 para R$ 50. No entanto, o discurso ficou bem mais cauteloso. Os analistas destacam que questões judiciais, custos com novos hospitais e despesas administrativas mais altas continuam afetando a performance da companhia.
A análise do BTG foi direta: apesar de o valuation indicar potencial, a confiança nas margens diminuiu. A teleconferência de resultados não conseguiu ancorar expectativas e deixou claro que a normalização deve levar mais tempo. A combinação de sinistralidade elevada, novas unidades e volatilidade jurídica coloca pressão adicional sobre o desempenho nos próximos trimestres.
A Hapvida está perdendo espaço no mercado?
Segundo os analistas, sim. O crescimento orgânico segue ausente mesmo com avanços na verticalização e na qualidade operacional. A empresa perdeu participação principalmente no Sudeste e terminou 2025 sem adicionar novas vidas — enquanto o setor como um todo avançou 1,2 milhão de beneficiários.
Além disso, o Ebitda dos últimos doze meses está praticamente estagnado há oito trimestres. As margens, que antes eram projetadas acima de 17%, agora giram em torno de 14%. E, segundo o mercado, a incerteza é ainda maior quando se olha para o plano estratégico na região Sudeste.
A Hapvida virou uma “value trap” — ou ainda existe chance de recuperação?
Para boa parte dos analistas, sim, o papel flerta com a definição de value trap. Essa expressão é usada quando um ativo parece barato, mas na verdade está caro porque esconde problemas profundos. Cortes sucessivos nas estimativas e um P/L ajustado perto de 8 vezes reforçam a preocupação.
O BTG foi claro: mesmo com modelos indicando potencial de alta, a falta de confiança nas margens reduz o peso do valuation. Os analistas afirmam que pressões de custo e provisões judiciais devem atrasar a normalização operacional.
A recompra pode ajudar a sustentar o preço da ação?
Existe essa possibilidade. O novo programa de recompra de 70 milhões de ações chamou atenção do mercado. Segundo o Bradesco BBI, o volume é significativo — cerca de 15% do total e 24% do free float — e pode funcionar como um suporte psicológico importante para o papel.
O BBI manteve recomendação de compra, mas reduziu o preço-alvo de R$ 51 para R$ 27 após incorporar os resultados fracos. O banco também diminuiu a estimativa de lucro para 2026 em 42%, passando para R$ 863 milhões, com base em sinistralidade elevada e margens estáveis.
Para os analistas, o quarto trimestre deve continuar pressionado. Custos das obras em andamento, margens fracas e pouca alavancagem operacional compõem o cenário. Ainda que a recomendação seja de compra, o tom é de cautela: a dinâmica permanece desafiadora e a visibilidade dos resultados é limitada.
Conclusão: Hapvida está barata demais — ou com problemas demais?
A queda de mais de 40% transformou a Hapvida em um dos assuntos mais comentados do mercado. Embora alguns analistas enxerguem potencial no longo prazo, a maioria concorda em um ponto: a empresa precisa mostrar execução consistente para reconquistar a confiança dos investidores.
Assim, a resposta entre oportunidade e armadilha depende menos do preço e mais da capacidade da companhia de corrigir rotas e melhorar suas margens nos próximos trimestres. Se quiser continuar acompanhando análises como esta, explore outras matérias do Brasilvest e fique por dentro dos próximos balanços.
Perguntas Frequentes (FAQs)
O que causou a queda de mais de 40% nas ações da Hapvida?
A queda ocorreu após o balanço do 3T25 revelar piora no Ebitda, sinistralidade elevada e aumento das provisões.
O JPMorgan ainda recomenda compra de HAPV3?
Não. O banco rebaixou para neutra e cortou o preço-alvo para R$ 39.
Algum banco ainda recomenda compra?
Sim. BTG Pactual e Bradesco BBI mantêm compra, mas com forte cautela.
A Hapvida está perdendo participação no mercado?
Sim. A empresa perdeu força no Sudeste e não adicionou novas vidas em 2025.
A empresa virou uma value trap?
Segundo muitos analistas, sim. A combinação de margens fracas e revisões para baixo intensificou esse risco.
A recompra de ações pode ajudar?
Pode. O programa de recompra de 70 milhões de ações tende a oferecer algum suporte ao preço.









