Dados do IBGE revelam abismo econômico entre cidades brasileiras e reforçam desigualdade estrutural
O Censo 2022 do IBGE mostrou que o município de Nova Lima (MG) registrou a maior renda média do trabalho no país, com R$ 6.929 mensais, enquanto Cachoeira Grande (MA) teve a menor, com apenas R$ 759. Segundo levantamento publicado pelo InfoMoney, a diferença entre os dois extremos chega a quase nove vezes, revelando a profundidade das desigualdades regionais brasileiras.
Disparidade em escala nacional
A média nacional de rendimento do trabalho foi de R$ 2.851, e em 520 municípios — cerca de 9,3% do total — o valor ficou abaixo do salário mínimo de 2022 (R$ 1.212), conforme o próprio IBGE. Entre as dez cidades com maior renda média, predominam municípios do Sudeste e Sul. Além de Nova Lima, aparecem São Caetano do Sul (SP), com R$ 6.167, Santana de Parnaíba (SP), com R$ 6.081, e Petrolândia (SC), com R$ 5.989, de acordo com os dados oficiais do IBGE. Já entre os menores rendimentos, todos estão no Nordeste: além de Cachoeira Grande, figuram Caraúbas (PI) (R$ 788), Mulungu do Morro (BA) (R$ 805) e Bacurituba (MA) (R$ 811).
Fontes de renda e desigualdade regional
A pesquisa indica que 75,5% da renda domiciliar brasileira em 2022 veio do trabalho, e os 24,5% restantes de aposentadorias, pensões, programas sociais e aluguéis. No Nordeste, o peso do trabalho na renda é menor — 67,9%, contra 80,6% no Centro-Oeste —, o que ajuda a explicar a vulnerabilidade de municípios com baixa formalização, segundo o IBGE. Entre os estados, o Piauí registrou a menor participação do trabalho na renda total (64,3%), enquanto Mato Grosso teve a maior (84,5%), refletindo a força do agronegócio e do emprego formal no Centro-Oeste.
O que explica o abismo entre extremos
Especialistas ouvidos pelo InfoMoney apontam fatores estruturais para essa disparidade. Cidades mais urbanizadas atraem empresas, oferecem melhor infraestrutura e concentram mão de obra mais qualificada. Em contraste, municípios com baixa densidade econômica enfrentam barreiras logísticas, menos oportunidades no setor formal e carência de investimentos públicos. Além disso, o acesso desigual à educação técnica e superior alimenta o ciclo de exclusão e mantém a renda média deprimida em regiões periféricas.
Impactos e desafios para políticas públicas
O contraste entre extremos aumenta a pressão por políticas de inclusão produtiva, formação profissional e desenvolvimento regional. Governos podem acelerar a interiorização de investimentos, melhorar corredores logísticos e incentivar a formalização — medidas que ajudam a reduzir o fosso entre Sudeste/Sul e o interior do Norte/Nordeste, como sugerem os indicadores do IBGE. As desigualdades de renda também impactam o consumo, a arrecadação e a mobilidade interna: populações de municípios mais pobres tendem a migrar para centros urbanos, elevando a demanda por serviços e pressionando mercados de trabalho metropolitanos. Reduzir o abismo regional, portanto, é passo essencial para garantir crescimento econômico sustentável e menos concentrado.