Alta dos juros reais, estabilidade fiscal e avanço em reformas atraem capital estrangeiro mesmo em cenário global desafiador.
Em um mundo ainda pressionado por incertezas geopolíticas, juros elevados nas economias centrais e recuperação econômica desigual, o Brasil tem se destacado positivamente no radar de investidores internacionais. A combinação de juros reais elevados, avanço de reformas estruturais e melhora no equilíbrio fiscal está levando fundos estrangeiros a aumentarem sua exposição no país.
Segundo dados do Banco Central, os investimentos estrangeiros diretos no Brasil somaram mais de US$ 70 bilhões em 2024 — o maior nível desde 2019. E a tendência, de acordo com projeções da Bloomberg e do Institute of International Finance (IIF), é que esse fluxo continue crescendo em 2025, especialmente em setores ligados à energia, infraestrutura e agronegócio.
A razão principal é o diferencial de juros. Com a taxa Selic ainda em patamares elevados (mesmo com expectativa de queda gradual), o Brasil oferece um dos maiores juros reais do mundo. Isso atrai o chamado “carry trade” — quando investidores buscam ganhos em moedas com maior retorno. “O Brasil virou um porto atrativo de rendimento em meio à tempestade dos mercados desenvolvidos”, afirmou ao Valor Econômico a economista-chefe da BlackRock para emergentes, Isabelle Mateos y Lago.
Além disso, a agenda de reformas — como a tributária e a administrativa — passou a gerar mais confiança no ambiente institucional. O avanço, mesmo que lento, é visto como sinal de compromisso com estabilidade de longo prazo. Outro fator relevante é a solidez do sistema financeiro brasileiro e a resiliência demonstrada em ciclos anteriores de volatilidade.
Contudo, nem tudo são flores. O risco político ainda pesa nas decisões de alocação. Investidores estrangeiros seguem atentos a eventuais ruídos entre Executivo e Congresso, além das eleições municipais deste ano, que podem sinalizar mudanças de tendência para 2026. Ainda assim, como ressaltou a analista da XP Investimentos Camila Abdelmalack à Reuters, “o apetite por Brasil existe — desde que o país continue entregando previsibilidade e responsabilidade fiscal”.
Para o investidor brasileiro, entender esse movimento global pode ajudar na hora de montar uma carteira. A entrada de capital estrangeiro tende a valorizar o real, pressionar menos a inflação e impulsionar a bolsa — principalmente empresas ligadas a commodities e exportação.
Com um cenário internacional desafiador, o Brasil tem conseguido se vender como uma oportunidade em meio à cautela. Resta saber se o país saberá aproveitar essa onda sem perder o equilíbrio interno.