Enquanto governadores enfrentam limites claros de remuneração, prefeitos de grandes capitais brasileiras estão ganhando mais — e bem mais. Em pelo menos oito capitais, os salários dos gestores municipais superam os vencimentos dos governadores, com valores que chegam a R$ 52,9 mil por mês, acima inclusive do teto constitucional.
O tema reacende o debate sobre privilégios no poder público, brechas legais e a eficácia da prometida reforma administrativa.
Quem lidera o ranking dos maiores salários
O caso mais extremo é o do prefeito de Cuiabá, Abilio Brunini (PL). Enquanto o governador do Mato Grosso, Mauro Mendes, recebe cerca de R$ 32,3 mil, o prefeito da capital chega a R$ 52,9 mil mensais.
O valor é composto por:
- Salário base de R$ 34,9 mil, sujeito ao teto constitucional
- Verba indenizatória de R$ 18 mil, que não entra no teto e não sofre desconto de Imposto de Renda
Na prática, Brunini recebe mais do que o presidente da República e ministros do STF.
O truque da verba indenizatória
A chamada verba indenizatória é o principal mecanismo que permite ultrapassar o teto. Criada por lei municipal em 2021, ela compensa gastos como:
- Deslocamentos
- Alimentação
- Segurança
- Atividades externas
Como não é classificada como salário, escapa do teto constitucional. Prefeituras argumentam que a prática é legal e respaldada por legislações locais, mas especialistas veem uma distorção clara do espírito da Constituição.
Outras capitais onde prefeitos ganham mais
Além de Cuiabá, a lista inclui cidades relevantes:
- Rio de Janeiro: Eduardo Paes (PSD) recebe R$ 35,6 mil, enquanto o governador Cláudio Castro ganha R$ 21,8 mil
- São Paulo: Ricardo Nunes (MDB) tem salário de R$ 39 mil, acima do governador Tarcísio de Freitas
- Recife: João Campos (PSB) ganha mais que o salário-base da governadora
- Curitiba, Goiânia, Fortaleza e Florianópolis também entram na conta
Em todos os casos, os valores são fixados por leis municipais aprovadas pelas câmaras locais.
Reforma administrativa não atinge capitais
A proposta de reforma administrativa, apresentada no fim de outubro, até tenta limitar esses excessos. O texto prevê que prefeitos não possam ganhar mais que 80% do salário de um governador.
Mas há um detalhe crucial: as capitais ficaram fora da regra.
Segundo o relator da proposta, deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), cidades grandes têm autonomia suficiente e o desgaste político seria um freio natural. Na prática, isso mantém uma brecha aberta justamente onde os salários são mais altos.
Especialistas criticam modelo atual
Para especialistas em gestão pública, o critério atual é falho. A professora Ursula Peres, da USP, defende limites mais objetivos e coerentes.
Segundo ela, população não pode ser o único critério. É preciso considerar:
- Capacidade financeira do município
- Grau de dependência de repasses
- Complexidade administrativa
- Indicadores de desigualdade
Sem isso, a reforma corre o risco de legitimar privilégios em vez de combatê-los.
O que está em jogo
O debate vai além de números. Trata-se de:
- Confiança nas instituições
- Respeito ao teto constitucional
- Uso responsável do dinheiro público
Enquanto a reforma não avança sobre capitais, prefeitos seguem ganhando mais que governadores — e o eleitor começa a perceber.
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Perguntas Frequentes (FAQs)
Prefeitos podem ganhar acima do teto constitucional?
O salário-base não pode, mas verbas indenizatórias permitem ultrapassar o teto.
Quantas capitais têm prefeitos ganhando mais que governadores?
Pelo menos oito capitais brasileiras.
Qual é o maior salário registrado?
O de Cuiabá, com até R$ 52,9 mil por mês.
A reforma administrativa vai resolver isso?
Parcialmente. As capitais ficaram fora das novas regras.
Verba indenizatória paga imposto?
Não. Ela não sofre desconto de Imposto de Renda.
Isso é legal?
É permitido por leis locais, mas questionado por especialistas.









