Vendas da fabricante de cimento e drywall seguem de perto o ritmo das novas construções nos EUA — e até casos de cartel já influenciaram o preço no passado
Muitos clientes me perguntam por que gasto tanto tempo produzindo e atualizando análises amplas sobre diferentes setores da economia. A resposta é simples: o comportamento de cada indústria costuma ser o principal motor das vendas de qualquer empresa individual. Já publiquei estudos sobre setores como o imobiliário e o de transporte, e o ponto central é sempre o mesmo — entender o ambiente em que a companhia está inserida é essencial para prever seus resultados.
O foco de hoje é a Eagle Materials ($EXP), uma das maiores produtoras de gesso acartonado e cimento dos Estados Unidos, com operações também em concreto e agregados. Um gráfico que analisei mostra uma correlação forte entre as vendas de drywall (gesso acartonado) e o número de novas construções residenciais no país. Mesmo que nem todo drywall vá parar em casas novas, esse indicador sozinho explica quase 90% das vendas totais — o que mostra o quanto o desempenho da empresa anda de mãos dadas com o ciclo imobiliário.

Por isso, entender as oscilações do mercado de construção nos EUA é fundamental para projetar as receitas da Eagle nesse segmento. A partir daí, é possível estimar a participação de mercado, o nível de utilização da capacidade produtiva e, consequentemente, a tendência dos preços do drywall — o segundo gráfico da análise ajuda a visualizar essa relação.

Durante o boom imobiliário dos anos 2000, a indústria operava no limite, e os preços subiram junto. Quando o mercado desabou, a demanda despencou — e os preços seguiram o mesmo caminho. Mas algo curioso aconteceu depois: no início da década de 2010, os preços do drywall voltaram a subir mesmo com o setor ainda fraco. Na época, essa alta parecia sem sentido, até que, anos depois, a Eagle e sua principal concorrente, a USG, foram multadas em milhões de dólares por formação de cartel. Ou seja, o aumento artificial de preços tinha uma explicação.
Olhando para frente, é provável que os preços continuem sob controle, já que a expectativa é de queda no número de novas construções (como mostrei em uma análise recente com dados do Censo americano). Ainda assim, se os grandes players voltarem a combinar preços, o cenário pode mudar rapidamente — motivo mais do que suficiente para seguir monitorando de perto esse mercado.









