O desempenho histórico do ouro e da prata mostra que nem todo ativo de proteção é garantia contra perdas de longo prazo
por Danilo Ruas Santiago
Clientes, amigos e conhecidos que sabem que trabalho com investimentos frequentemente me perguntam sobre o preço do ouro. A resposta é sempre a mesma: não muito, porque o ouro está fora do meu círculo de competência. Para ter uma opinião fundamentada sobre qualquer commodity, é essencial entender quem são os fornecedores, quanto podem produzir e a que custo — em outras palavras, construir uma curva de custos. Sem isso, qualquer alocação nesse tipo de ativo tende a ser excessivamente especulativa, mesmo que a intenção seja proteger contra a inflação ou diversificar o portfólio.
Ainda assim, observar como os preços do ouro — e, frequentemente, da prata — se comportaram ao longo do tempo, especialmente durante a alta inflacionária dos anos 1970 e 1980 nos Estados Unidos, pode trazer lições valiosas. O gráfico analisado mostra o ouro (em azul), o ouro ajustado pela inflação (em verde), a prata (em magenta) e a prata ajustada pela inflação (em amarelo).
Começando pelo ouro: quando a inflação disparou no fim dos anos 1970, o metal chegou, em valores de hoje, a cerca de US$ 2.600 por onça. O preço atual está aproximadamente 55% acima desse pico histórico. No entanto, esse recorde ocorreu há 45 anos — o que implica um retorno real de apenas 1% ao ano desde então. O que veio depois serve de alerta: o ouro entrou em queda prolongada por quase duas décadas, caindo para cerca de US$ 500 por onça no início dos anos 2000 — uma desvalorização de 81%, restando apenas 19% do valor original do investimento.
A prata teve um movimento ainda mais drástico. Hoje em torno de US$ 50 por onça, ela chegou a ultrapassar US$ 200 (em valores ajustados) em 1980, antes de despencar para aproximadamente US$ 8 no início dos anos 2000 — uma queda de cerca de 96%. Imagine olhar para uma aplicação pensada como “proteção inflacionária” e ver que restaram apenas 4% do valor inicial.
A lição desses dois metais preciosos é simples: invista com cautela. Os preços podem subir, mas fases especulativas prolongadas costumam resultar em retornos negativos por décadas. No caso da prata, o ponto mais próximo de seu recorde de 1980 foi no início dos anos 2010, quando alcançou cerca de US$ 60 por onça — ainda 70% abaixo do pico.
Observação: as séries ajustadas pela inflação terminam antes do último ponto mostrado nos preços nominais porque a ferramenta usada calcula apenas até o mês mais recente com índice disponível. Como a inflação recente é mínima, os dois valores finais são praticamente idênticos.