Mesmo longe da guerra, o Brasil sente no bolso os efeitos da tensão entre Rússia, Ucrânia e países do Ocidente.
A guerra entre Rússia e Ucrânia, que se estende desde 2022, não afeta apenas a Europa Oriental ou os campos de batalha. Seus efeitos econômicos chegam até as lavouras brasileiras e, consequentemente, à mesa do consumidor. Um dos canais mais relevantes é o mercado de fertilizantes — e a Rússia é peça-chave nesse tabuleiro.
Segundo dados do Ministério da Agricultura, mais de 20% de todo o fertilizante usado no Brasil vinha da Rússia antes da guerra. Com as sanções econômicas impostas por EUA e União Europeia, houve interrupções no fornecimento, aumento de preços e redirecionamento logístico global. A consequência foi uma alta significativa nos custos da produção agrícola nacional.
“Mesmo com a diversificação de fornecedores, a dependência ainda é alta, e qualquer instabilidade geopolítica afeta diretamente os custos do agronegócio”, explica André Pessoa, da Agroconsult, em entrevista à Folha de S.Paulo. O aumento nos preços do adubo pressiona diretamente o custo de produção de alimentos como milho, soja e feijão — base da alimentação brasileira.
Além dos fertilizantes, o conflito afeta o preço do petróleo, uma vez que a Rússia é uma das maiores exportadoras do mundo. Sanções sobre o petróleo russo encarecem a oferta global, pressionando os combustíveis e, em cadeia, todos os produtos transportados por caminhões — o que, no Brasil, significa praticamente tudo.
De acordo com a Bloomberg, mesmo países que não adotaram sanções contra a Rússia, como o Brasil, enfrentam os efeitos indiretos da reorganização do comércio global. Empresas têm que buscar rotas alternativas, enfrentar volatilidade no câmbio e adaptar contratos com fornecedores.
No fim das contas, conflitos geopolíticos como esse vão além das manchetes internacionais: afetam o preço da comida, do combustível, do aluguel e até os índices de inflação. Entender essa conexão é essencial para consumidores, investidores e formuladores de política pública.