A União Europeia está prestes a iniciar uma das mudanças mais polêmicas desde a criação do MiCA, a grande estrutura regulatória de criptoativos do bloco. Em documentos preliminares que circulam em Bruxelas, a Comissão Europeia propõe transferir toda a supervisão das empresas de criptomoedas para a ESMA, a Autoridade Europeia dos Valores Mobiliários e dos Mercados — afastando os reguladores nacionais do centro das decisões.
Em primeiro lugar, amudança, que ainda deve ser anunciada oficialmente no próximo mês, marca uma ruptura drástica com o modelo desenhado para o MiCA, que previa que cada empresa buscasse autorização em um Estado-membro para depois atuar em toda a União Europeia por meio do sistema de “passaporte”.
Associações do setor, reguladores e especialistas já demonstram preocupação: para eles, essa guinada repentina ameaça paralisar a implementação do MiCA, criar incerteza jurídica e sobrecarregar uma autoridade que, segundo críticos, não tem estrutura para assumir todas as funções.
Bruxelas quer centralizar tudo: aprovações, supervisão e novos registros
Em segundo lugar, pelo novo plano, o poder de aprovar operações, analisar pedidos e fiscalizar empresas migraria dos órgãos nacionais diretamente para a ESMA.
A Comissão afirma que o órgão europeu ainda poderia delegar algumas tarefas, mas, na prática, o papel dos reguladores nacionais seria drasticamente reduzido.
A mudança exige aprovação do Parlamento Europeu e do Conselho e, por enquanto, nenhum deles comentou as negociações — reforçando, dessa forma, a percepção de que a proposta ainda está em fase sensível.
Mas por que isso é tão controverso?
O MiCA levou anos para ser discutido e foi estruturado justamente para integrar o mercado europeu sem retirar dos países o direito de supervisionar as empresas instaladas em seus territórios.
Além disso, durante esse tempo, os órgãos nacionais:
- criaram departamentos especializados,
- treinaram equipes,
- desenvolveram processos para autorizar provedores de serviços de cripto,
- ajustaram legislações internas.
A implementação completa do MiCA estava prevista para terminar no ano que vem — até agora.
Setor reage e diz que a mudança ameaça todo o progresso feito
Associações europeias de blockchain afirmam que reabrir o MiCA neste momento significa jogar anos de trabalho no lixo.
Robert Kopitsch, secretário-geral da Blockchain for Europe, foi direto: mexer na estrutura agora traz insegurança, atrasa licenças e desvia recursos da tarefa principal — implementar a lei.
Para ele, os reguladores nacionais têm uma vantagem crucial: proximidade diária com as empresas, algo que a ESMA não conseguiria replicar de forma eficiente.
Além disso, Kopitsch ainda defende que qualquer passo rumo a um modelo centralizado só deveria ser discutido depois de alguns anos de experiência prática com o MiCA funcionando plenamente.
Outros especialistas reforçam o alerta: sem ampliar a estrutura, a ESMA simplesmente não conseguiria assumir a carga de trabalho hoje dividida entre 27 reguladores.
França lidera pressão por mais poderes à ESMA
A iniciativa de dar mais força à ESMA não surgiu do nada.
No mês passado, a França já havia defendido que a autoridade europeia supervisionasse diretamente as maiores empresas cripto do bloco.
O governador do Banco da França, François Villeroy de Galhau, argumentou que o modelo atual — com licenças nacionais que valem como “passaporte” para atuar na UE — abre brechas e enfraquece a fiscalização.
A presidente da própria ESMA, Verena Ross, também insinuou que uma supervisão centralizada poderia ser mais eficiente, levantando a pergunta: com 27 reguladores se preparando separadamente, não faria mais sentido concentrar tudo em um único órgão?
A discussão ganhou força depois que a ESMA expressou preocupação com o processo de licenciamento de criptomoedas em Malta, em uma revisão que apontou falhas na supervisão local.
O que pode acontecer agora?
Em conclusão, se a proposta avançar, a ESMA assumiría:
- análise e aprovação de todas as empresas cripto na UE,
- fiscalização contínua de operações,
- monitoramento de riscos transfronteiriços.
Para o setor, isso seria equivalente a recomeçar do zero.
Por outro lado, para Bruxelas, é um passo necessário para garantir uniformidade e evitar brechas.
Por fim, a disputa promete ser longa — e com impacto direto sobre provedores de serviços, exchanges e projetos que dependem do MiCA para operar na Europa.
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Perguntas Frequentes (FAQs)
A UE realmente quer tirar o poder dos reguladores nacionais?
Sim. A proposta prevê que a ESMA assuma a supervisão completa das empresas cripto, substituindo o modelo do MiCA.
Isso já está valendo?
Ainda não. A proposta precisa ser aprovada pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho.
Essa mudança afeta a implementação do MiCA?
Sim. Entidades do setor alertam que ela pode atrasar autorizações e gerar insegurança jurídica.
A ESMA tem estrutura para assumir tudo?
Segundo críticos, não. A autoridade teria de expandir muito seus recursos humanos e técnicos.
Por que alguns países, como a França, apoiam a mudança?
Eles defendem que uma supervisão centralizada reduz brechas e garante aplicação uniforme das regras.
O MiCA pode mudar completamente?
Dependendo do avanço da proposta, sim — pode haver uma reformulação significativa do modelo original.









